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2 de junho de 2020
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12:18

Lajeado faz testagem em massa para identificar bairros mais afetados pelo coronavírus

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Lajeado faz testagem em massa para identificar bairros mais afetados pelo coronavírus
Lajeado faz testagem em massa para identificar bairros mais afetados pelo coronavírus
Univates converteu equipamentos usados em aulas práticas para o processamento de testes do coronavírus | Foto: Divulgação

Luís Eduardo Gomes

Apesar de ter apenas 84 mil habitantes, Lajeado lidera as estatísticas de número de casos confirmados de covid-19 — a doença causada pelo novo coronavírus — no Rio Grande do Sul. Uma das razões para isso é o fato de que Lajeado é a cidade do Estado com o maior número de testes per capita já realizados.

Segundo informações da Prefeitura de Lajeado, até o dia 28 de maio, a cidade já havia realizado 4,3 mil testes para coronavírus, entre laboratórios públicos e privados, o que significava uma taxa superior a 50 mil testes por milhão de habitantes, quinze vezes mais que a média do Brasil (4,3 mil por milhão) e superior a de países como a Alemanha (47 mil por milhão). Para efeito de comparação, Porto Alegre, com uma população cerca de 18 vezes maior, processou 4,6 mil até esta segunda-feira (1º).

Na segunda, a prefeitura de Lajeado contabilizava 1.330 casos confirmados de coronavírus, sendo 293 por meio do teste PCR (que investiga a presença do vírus ativo)  e 1.037 pelos testes rápidos (que investigam a presença de anticorpos do vírus), e 19 óbitos.

De acordo com os dados da SES, atualizados na noite do mesmo dia, Lajeado era a cidade com o maior número de casos no RS, com 1.297, à frente da Capital, que tinha 744. Há uma defasagem na contabilidade do Estado em relação aos números das prefeituras, mas, mesmo levando em conta os casos contabilizados pela Prefeitura de Porto Alegre (1.265 até a noite de segunda), a cidade do Vale do Taquari registrava mais resultados positivos.

“Já realizamos muitos testes, tanto que a gente aparece hoje no Estado como uma das cidades que mais testou”, diz o biomédico e professor Jairo Hoerlle, diretor de Serviços em Saúde da Univates, universidade privada sediada em Lajeado. “O que no início parecia ser um problema, termos mais casos positivos diagnosticados que o restante do Estado, agora se tornou um grande ponto a nosso favor. Identificar o número de curados é essencial para entender a disseminação do vírus e a formação de barreira”, explica.

Hoerlle afirma que, somente a Univates, adquiriu 14 mil testes — entre rápidos e PCR –, dos quais 11 mil já foram realizados ou negociados. Contudo, ele ressalva que os testes não foram aplicados todos em Lajeado, pois a universidade atende todo o Vale do Taquari.

O biomédico explica que, no primeiro momento, quando a Vigilância Epidemiológica do Estado restringiu a testagem somente a pacientes sintomáticos, a Univates adquiriu os testes com apoio de uma empresa da região e adaptou o equipamento de biologia molecular que era usado em aulas práticas para o laboratório de análises clínicas, o que permitiu ampliar a capacidade de processamento de testes, não só do município, como também da região.

“Isso permitiu que a gente pudesse fazer mais testes do que apenas para aqueles que estavam internados, mas também de funcionários e profissionais da área da saúde”, diz. “Ainda assim, se a gente for pensar a nível de testes e volume populacional, eu ainda considero pouco”.

O biomédico destaca que uma das dificuldades que percebe no Estado, e também no Brasil, é justamente a de acesso a testes. “Em algum momento, nós deixamos de ter porque o mundo inteiro queria a mesma coisa, aí os testes ficaram muito caros. Mas, quem saiu na frente, conseguiu. Talvez essa tenha sido uma das vantagens que a Univates teve, de ter conseguido sair na frente e obtido uma quantidade significativa de testes”, diz.

Além disso, pontua que o processamento dos testes exige equipamentos caros, que poucas instituições têm. “Geralmente só os grandes laboratórios de grandes cidades têm [o equipamento], e os centros de pesquisa de universidades, que era o nosso caso. Cidades do interior não têm equipamento de biologia molecular”, diz.

Testagem em massa em frigoríficos

Uma característica da epidemia do coronavírus no Rio Grande do Sul é que ela tem se propagado, em grande parte, em unidades de grandes frigoríficos. Um estudo realizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e divulgado na última sexta-feira (29) apontou que 30% dos casos confirmados no RS eram de trabalhadores do setor.

Até sexta, 2.399 empregados de 24 unidades frigoríficas localizadas em 18 municípios do Estado já haviam testado positivo, grande parte delas em Lajeado.

Hoerlle destaca que, para cumprir um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre um frigorífico e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), a Univates foi acionada para realizar 1.450 testes rápidos e 200 testes do tipo PCR. Destes, 1,4 mil já foram processados — a maioria dos testes rápidos –, alcançando essa taxa de 75%. Outros 1,1 mil testes foram realizados em outro frigorífico e não foram processados pela Univates.

Porém, o biomédico afirma que, como a pesquisa tinha o objetivo de medir o nível de anticorpos, não há a informação de quantos trabalhadores que testaram positivo apresentaram sintomas ou precisaram ser internados. “Eu sei que a gente teve um momento, lá atrás, onde nós tivemos várias internações relacionadas aos frigoríficos. Agora, quantos destes tem associação direta com o teste positivo, eu realmente não teria essa informação”.

Testa Lajeado

Para além da testagem em massa em frigoríficos, a Univates e a Prefeitura de Lajeado firmaram uma parceria para realizar uma pesquisa em larga escala de prevalência do vírus na cidade, aos moldes da pesquisa que vem sendo realizada no Estado em parceria entre a UFPel e o governo de Eduardo Leite. A diferença é que, por concentrar 3,6 mil testes em uma única cidade, a pesquisa chamada de Testa Lajeado poderá oferecer um mapeamento mais preciso da circulação do vírus do que o trabalho estadual — que já realizou quatro fases de 4,5 mil testes em nove cidades.

Hoerlle informa que os 3,6 mil testes rápidos da campanha Testa Lajeado começaram a ser aplicados durante o último final de semana e deverão ter a aplicação concluída na quarta ou na quinta-feira desta semana, com os resultados sendo divulgados até o início da próxima semana. “É claro que não seguirão, nem de perto, a proporção desse frigorífico”, ressalva.

O biomédico avalia que, concluída a pesquisa — que ainda terá novas fases –, será possível traçar um panorama fidedigno do comportamento do coronavírus em Lajeado e entender o que aconteceu e o que pode ainda acontecer na cidade.

“Uma pesquisa como essa permite entender a movimentação do vírus na região. Porque, na medida em que tu faz uma pesquisa escolhendo aleatoriamente, por sorteio, moradores de todos os bairros da cidade, tu identifica se em determinado bairro tem mais ou menos de positividade, tu consegue entender o movimento do vírus dentro do município. Isso permite rastrear o comportamento do vírus e de que maneira circulou dentro de Lajeado”.


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