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3 de junho de 2020
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16:41

Ferramenta da UFRGS projeta que Brasil supere 1 mi de casos e 50 mil mortes por coronavírus em 20 dias

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
Hospital de campanha do Maracanã. Foto: Paulo Vitor/Secretaria da Saúde do RJ

Luís Eduardo Gomes

Na terça-feira (2), o Brasil chegou a 31.199 vítimas fatais da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, e 555 mil pessoas contaminadas. A barreira dos 500 mil casos foi superada no 97º dia desde o registro do primeiro caso no Brasil. No entanto, de acordo com uma ferramenta de projeção criada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a marca de um milhão de casos deve ser alcançada em pouco mais de duas semanas, no dia 20 de junho.

Sob a liderança do professor João Comba, do Instituto de Informática, a ferramenta “COVID-19 Analysis Tools” (o conteúdo está em inglês e pode ser acessado aqui) é alimentada por professores, pós-graduandos e alunos de graduação voluntários, a maioria do Instituto de Informática, e utiliza dados públicos de governos nacionais e regionais do mundo para projetar o avanço da pandemia em cidades, estados e em todo o Brasil a partir da comparação com outras localidades.

Professor João Comba, do Instituto de Informática da UFRGS | Foto: Arquivo Pessoal

Em conversa com o Sul21, Comba explicou que a ferramenta e suas projeções são atualizada diariamente a partir da coleta automática dos dados públicos sobre o coronavírus. As estimativas são feitas levando em conta a evolução de casos e mortes no período anterior de sete dias.

Comba ressalta que não é estatístico, mas que, num cruzamento da evolução das estimativas feitas pela ferramenta com os dados oficiais, há bastante proximidade entre o previsto e o confirmado. “Essa estimativa de que a gente deve passar um milhão de casos lá pelo dia 21 e um dia depois o número de 50 mil óbitos no Brasil, ela deve acontecer, com uma margem de erro de três dias”, afirma.

Em uma projeção de curto prazo, a ferramenta estima nesta quarta (as estimativas também são atualizadas diariamente) que o Brasil deve chegar, em uma semana, no dia 10, à marca de 38,2 mil óbitos e 727 mil casos. Uma semana depois, no dia 17, a 45,4 mil óbitos e 918 mil casos, superando os 50 mil óbitos no dia 22.

No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, a ferramenta projeto que, no dia 10, o Estado chegue a 293 mortes e 14,1 mil casos. Em duas semanas, no dia 17, a projeção é de que tenha 337 óbitos e 18,3 mil casos. A expectativa é que dobre os 9,9 mil casos atuais no dia 20. Espera-se que a evolução das mortes avance em ritmo mais lento, também porque há um aumento da testagem no Estado.

“Isso vai ter um impacto nos dados, vai dar uma subida muito grande, porque está se testando mais. Mas, as estimativas de óbito, embora também possa haver subnotificação, elas são muito difíceis de errar, porque aí não está tão atrelado à questão da testagem”, diz Comba.

Imagem de pesquisa feita na ferramenta | Foto: Reprodução

Comparações

Comba conta que a ferramenta começou a ser pensada no início da pandemia, quando procurava formas de ajudar no enfrentamento ao vírus a partir da análise visual de dados, trabalho que desenvolve na universidade.

Apesar de reconhecer que as projeções numéricas sejam o que mais chama a atenção da imprensa, ele avalia que o diferencial do trabalho desenvolvido na UFRGS sob a sua coordenação para outros painéis semelhantes é que ele permite a comparação da evolução da pandemia entre lugares diferentes. “Essa comparação se tornou interessante, permitiu comparar a evolução dos casos em diferentes locais, como municípios do Rio Grande do Sul e outras cidades do Brasil”.

Comba diz que a ideia inicial era de que as comparações entre locais em diferentes estágios da pandemia poderia ajudar a visualizar como seria o desenvolvimento do vírus. Após identificar as similaridades entre cidades e estados do Brasil com outros locais, imaginou que as comparações poderiam ajudar na predição do número de casos e de óbitos. Desde a semana passada, essas comparações podem ser feitas na aba “similarity explorer” (a ferramenta está em inglês), que pode ser traduzida como “explorador de similaridades”. Basta colocar o nome de uma cidade ou região e a ferramenta informa locais do mundo que estão em situação similar em quatro níveis: casos, óbitos, casos por 100 mil habitantes e óbitos por 100 mil habitantes.

“A gente notou que tem muitas cidades brasileiras que têm comportamentos parecidos com cidades dos EUA, especialmente em cidades do interior, por ter essa questão de não serem locais densamente povoados, de não ter uso tão intenso de transporte coletivo. Então, tem várias informações de vários outros lugares do mundo que você está tentando trazer para ajudar a montar esse quebra-cabeça. A gente está tratando aqui com um problema que as pessoas não sabem responder. Essa questão de dizer quantos casos vai ter daqui a um mês, isso é super difícil. E por isso que são estimativas”, diz. “Essa ferramenta permite outra forma de olhar, que é ver com o que a gente estava parecido e como ficou. Teve uma época que eu via que São Paulo estava muito parecido com Estocolmo e chegou um momento que São Paulo decolou e disparou. O que aconteceu?”, complementa, dando um exemplo de análise que pode ser feita a partir dos dados.

O professor ressalta que não é o objetivo do grupo que coordena fazer essas análises, porque não são profissionais da saúde, mas defende que a ferramenta pode ser usada por gestor públicos para auxiliar a tomada de decisões. “Nós estamos sendo os facilitadores desta análise, não estamos fazendo a análise em si. Não somos epidemiologistas, mas temos a capacidade de trazer esse mar de informação, que é muito grande, de forma efetiva e concisa”.


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