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26 de novembro de 2015
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18:31

‘É um elefante numa loja de cristais’, diz servidor sobre declaração polêmica de Sartori

Por
Sul 21
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‘É um elefante numa loja de cristais’, diz servidor sobre declaração polêmica de Sartori
‘É um elefante numa loja de cristais’, diz servidor sobre declaração polêmica de Sartori
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Sartori falou frase polêmica durante evento no Piratini | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Débora Fogliatto

O governador José Ivo Sartori (PMDB) protagonizou mais uma polêmica ao afirmar, na manhã desta quinta-feira (26), que os servidores deveriam “dar graças a Deus por ter estabilidade” e parar de “reclamar” por terem salários parcelados ou atrasados. Essa é mais uma das frases do líder do Executivo que, mesmo antes de se eleger,  já havia começado a se indispor com a categoria, ao fazer uma piada dizendo que os professores deveriam “procurar o piso na Tumelero“. Além disso, desde que assumiu, o governador tem tomado medidas que aumentaram ainda mais a tensão entre o governo e o funcionalismo.

A declaração desta quinta ocorreu em momento em que os servidores ainda não sabem se irão receber em dia os salários de novembro. A frase foi proferida durante o lançamento do programa BRDE Produção e Consumo Sustentáveis, no Palácio Piratini e, segundo afirmou na ocasião, Sartori teria dito a mesma coisa anteriormente, em uma reunião com os próprios servidores. “Ainda hoje numa reunião com os servidores eu disse: ‘olha, vocês às vezes reclamam porque têm penalização, às vezes parcelou salário, às vezes não receberam em dia. Deem graças a Deus que vocês têm estabilidade, que têm garantia no trabalho. Agora os outros que estão perdendo o emprego e não têm oportunidade'”, afirmou.

Os líderes sindicais se mostraram indignados, embora não surpresos, com a declaração do governador. “Como sempre, as falas dele são muito infelizes. É um elefante numa loja de cristais”, comparou Joanes Machado da Rosa, presidente do Sintergs — Sindicato dos Técnicos-Científicos do Rio Grande do Sul. O problema maior, na avaliação dele, não são as “frases de efeito”, mas sim as ações concretas do governador. “Ele tenta passar para a população que os servidores são o problema do Estado, que a crise em que se encontra o estado é ocasionada pelos servidores”, resumiu.

O dirigente definiu Sartori como o governador mais “contrário aos interesses do servidor público e por consequência do serviço público”. Da mesma forma, o vice-presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores, e Investigadores de Polícia Civil (Ugeirm), Fábio Castro, avalia que essa colocação “denota o profundo desprezo que o governador nutre pelos servidores públicos e serviço público em geral”.

Além disso, Castro menciona que, para os policiais, a estabilidade é fundamental para se realizar a profissão com segurança. “Imagina uma delegacia que vai investigar determinado deputado acusado de adulterar documentos ou de corrupção, como vai trabalhar sem ter a garantia da estabilidade para fazer esse enfrentamento?”, exemplifica.

Já Helenir Aguiar Schürer, presidente do Sindicato dos Professores (Cpers), destaca que é Sartori quem deveria dar graças a Deus por não haver no Brasil uma avaliação do mandato após dois anos, como disse existir em outros países, que determina se o governante deve continuar no poder. “Esse tipo de declaração é pra botar fogo no conflito e alimentar a pressão. É uma pena, temos um governo que não consegue resolver problemas no Estado e ainda cria uma animosidade”, avalia.

Para ela, o problema de Sartori com os servidores está ligado à sua vontade de fazer privatizações — as quais ele já demonstrou ter interesse, encaminhando os projetos que extinguem três fundações. “Sabemos que servidores são uma pedra no sapato para qualquer um que queira privatizar tudo”, afirmou a professora.

Também afirmando não estar surpreso, o presidente da Federação dos Servidores Públicos (Fessergs) Sérgio Arnoud rebate: “realmente graças a Deus, porque se fosse a vontade deles, já teriam exterminado com o serviço público. Isso faz parte de uma visão que entende que o serviço público é dispensável”. Ele destaca que essa estabilidade foi determinada pela Constituição para garantir que o funcionarismo não “se dobre” aos governantes com as trocas de governo. “É diferente de algumas empresas onde o funcionário tem que ser submisso às vontades do administrador se não é substituído imediatamente”, aponta.

 


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