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7 de agosto de 2014
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16:01

Ofensiva patronal no Congresso em 2015 será ‘assustadora’ e exigirá base social, alerta Diap

Por
Sul 21
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Ofensiva patronal no Congresso em 2015 será ‘assustadora’ e exigirá base social, alerta Diap
Ofensiva patronal no Congresso em 2015 será ‘assustadora’ e exigirá base social, alerta Diap

 

Analista avalia as propostas que tramitam no Congresso em relaçao às causas trabalhistas
Analista avalia as propostas que tramitam no Congresso em relaçao às causas trabalhistas

Vitor Nuzzi

Rede Brasil Atual

Se a bancada trabalhista no Congresso não crescer na próxima legislatura, haverá risco de perda de direitos mesmo em um eventual segundo governo de Dilma Rousseff, alerta o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz. A questão está na distribuição de bancadas no Parlamento, hoje com ampla maioria patronal.

“Tem projeto de tudo quanto é gosto para prejudicar os trabalhadores. Esse é o grande desafio. Se não houver base social, mesmo no governo Dilma a possibilidade de resistência será menor”, afirmou o analista político, durante entrevista a veículos alternativos, ontem (6), organizada pela Agência Sindical e pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. “A investida patronal a partir do ano que vem contra os trabalhadores será assustadora.”

Ele observa que, hoje, a correlação de forças já é desfavorável aos trabalhadores, com uma bancada empresarial três vezes maior no Congresso (273 a 91). Mesmo assim, houve uma série de avanços na atual gestão. “A bancada sindical foi muito ativa. Nenhum deles deixou de rechaçar ameaças ou apoiar medidas. Se não houvesse a pauta unificada das centrais, provavelmente muitos desses direitos não teriam se materializado. A despeito de haver visão política distinta, havia unidade de ação.”As conquistas também se viabilizam, observa, quando ocorre algum “alinhamento” da equipe econômica com o setor produtivo.

Queiroz chama a atenção para as propostas em jogo na atual eleição. Segundo ele, a manutenção de Dilma no Planalto representaria tensão “média” na relação entre governo e movimento sindical. Com Eduardo Campos (PSB), a tensão subiria para “alta”, atingindo o nível de “altíssima” em uma gestão Aécio Neves (PSDB). Na avaliação do diretor do Diap, a eleição do tucano traria riscos claros a direitos sociais, como a política de aumentos sistemáticos do salário mínimo. “O principal conselheiro econômico de Aécio é Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central), que não esconde de ninguém que quer a desindexação total da economia”, afirma. Pela definição do analista, Fraga não é apenas aliado, mas “cria” do mercado financeiro.

Direitos

O Diap elaborou um levantamento em que relaciona leis aprovadas nos dois últimos governos (Lula e Dilma) para mostrar que, mesmo sob críticas das centrais sindicais, vários itens foram aprovados no atual mandato. A relação para o período 2011-2014 inclui 12 leis e duas emendas, que incluem teletrabalho (Lei 12.555/11), ensino técnico (12.513/11), ampliação do aviso prévio (12.506/11), correção da tabela do Imposto de Renda (12.469/11), certidão negativa de débito trabalhista (12.440/11), continuidade da política de valorização do salário mínimo (12.382/11), vale-cultura (12.761/12), isenção de Imposto de Renda até R$ 6 mil no pagamento de participação nos lucros ou resultados (12.832) e combate ao trabalho escravo (Emenda 81/14), entre outros.

Na análise de Queiroz, as queixas das centrais quanto à relação com o governo têm origem em características pessoais dos mandatários. Lula conhecia profundamente o mundo sindical e mantinha relações de amizade, recebendo com regularidade os dirigentes. Dilma, de trajetória distinta, de certa forma delegou essa tarefa à Secretaria-Geral da Presidência e ao Ministério do Trabalho e Emprego, tendo assim menos encontros pessoais com representantes das entidades, o que teria causado algum ressentimento.

Outro item até agora não votado no Congresso, o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização, deve voltar a ser discutido logo no início do próximo ano legislativo. Para o diretor do Diap, a possibilidade de uma lei não (ou menos) prejudicial aos trabalhadores é “média” com Dilma e Campos, mas “baixíssima” no caso de Aécio. Ele observa que a regulamentação da terceirização “em bases precarizantes” é uma das três prioridades do setor empresarial, ao lado do Simples Trabalhista e do veto à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), contra a demissão imotivada.

A ofensiva em relação ao 4.330 no Congresso diminuiu com a mudança de alguns de seus principais “impulsionadores”, os deputados Arthur Maia e Laércio Oliveira, para o Solidariedade, partido criado com base sindical. “Eles tiveram de recolher as armas. O próprio empresariado deixou isso em segundo plano para não expor seus aliados. Esse assunto no Congresso voltará em 2015 com muita força”, observa Queiroz. Segundo ele, há ainda o risco de os empresários levaram a questão até o Supremo Tribunal Federal.

Jornada

Antiga reivindicação sindical, a redução da jornada de trabalho é uma possibilidade com Dilma, desde que seja negociada. “Com Aécio, nem pensar”, afirma Queiroz. A alternativa, no primeiro caso, seria diminuir a jornada aos poucos – Queiroz cita como exemplo uma redução de uma hora a cada dois anos, para chegar às 40 horas semanais em oito anos. “Com a correlação de forças que existe no Parlamento, nenhum governante conseguirá fazer de uma só vez.”

O fim do fator previdenciário, outro item da pauta das centrais, também é um tema difícil de ser resolvido. “O movimento sindical insistiu na revogação pura e simples”, lembra Queiroz, acrescentando que essa alternativa se mostraria inviável para a Previdência. “O governo estava disposto a suavizar os efeitos do fator previdenciário.” Uma ideia que chegou a ser discutida foi estabelecer uma transição, como a fórmula 85/95 (soma dos tempos de serviço e idade de mulher e homem, respectivamente).

O diretor do Diap classifica como “perversa” a fórmula criada ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, que permitiu reduzir o valor das aposentadorias em até 50%. “Uma pessoa que começou a trabalhar aos 18 ganharia só 60% do que teria direito se aposentando aos 54 anos. Com essa transição, aos 57 anos ela receberia integralmente o valor. Algumas centrais se opuseram. Agora, todas estão de acordo.”

A questão a ser observada neste momento, aponta, é qual receita cada governo adotaria em caso de crise: um “ajuste fiscal drástico, com redução de emprego e salário e menos políticas sociais, com recessão” ou “políticas anticíclicas, com ampliação de programas sociais”.

Queiroz também manifestou preocupação com o que chama de “descrença generalizada” nas instituições, o que favorece os defensores da redução do papel do Estado. “Isso é trágico, porque não há solução para os problemas fora da política. Você desqualifica a política para qualificar o mercado. A política está sendo apropriada pelo mercado. Esse financiamento de campanha é uma temeridade.”


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