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25 de julho de 2014
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18:58

Mesmo com boas chances de se elegerem, políticos desistem de concorrer à eleição

Por
Sul 21
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Elza Fiúza/ABr
Vários políticos deixam o cenário parlamentar neste ano| Foto: Elza Fiúza/ABr

Nícolas Pasinato

Nas eleições deste ano, diferentes políticos com mandato em exercício em diferentes esferas de representação parlamentar optaram por não disputar a reeleição e nem concorrer a outros cargos. Entre eles, aparecem candidatos com bom cacife eleitoral, que conquistaram milhares de votos em disputas anteriores, porém optaram por não passar pelo teste das urnas este ano.

É o caso do deputado estadual Raul Pont (PT). Em dezembro de 2014, após concluir o terceiro mandato consecutivo na Assembleia Legislativa, ele deixará de disputar cargos públicos. O petista alega que a sua decisão está relacionada a ideia de renovação do partido. “É importante ter uma renovação de quadros. Temos o discurso de aumentar a participação das mulheres e da juventude. Concordo com isso e estou ajudando nesse sentido”, diz ele.

Deputado Raul Pont (PT) falou sobre o tema da dívida em pronunciamento realizado ontem (18) no Grande Expediente da Assembleia Legislativa (Foto: Marcelo Bertani/Agência ALRS)
“É importante ter uma renovação de quadros”, diz deputado Raul Pont (PT) | Foto: Marcelo Bertani/Agência ALRS

Além disso, o deputado relaciona a sua desistência ao atual sistema eleitoral que, segundo ele, está cada vez pior, em razão do forte domínio do poder econômico nas campanhas. A terceira razão refere-se à questões pessoais. “O terceiro elemento é a idade. Não tenho mais a mesma mobilidade e capacidade física de viajar por todo o Estado”, diz o deputado de 70 anos. Pont ressalta, porém, que não está largando a atividade política. “Quero me dedicar mais ao trabalho interno de construção do partido”, diz.

Em 2011, no 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores (PT), a legenda aprovou uma mudança no estatuto da agremiação que prevê a limitação de mandato para deputados federais, estaduais, distritais, senadores e vereadores. Pela regra, a partir de 2014, os deputados e vereadores filiados ao PT só poderão ter, no máximo, três mandatos consecutivos. No caso de senadores, a limitação foi fixada em dois mandatos seguidos.

Pelo menos oito dos atuais 55 deputados estaduais não disputarão a reeleição à Assembleia Legislativa em outubro. Desses, pelo menos cinco concorrem a uma cadeira na Câmara dos Deputados: Heitor Schuch (PSB), Mano Changes (PP), Carlos Gomes (PRB), Giovani Feltes (PMDB) e Márcio Biolchi (PMDB). Além de Raul Pont (PT), também deixam o parlamento em 2014, sem previsão de retorno, são Elisabete Felice (PSDB) e Raul Carrion (PCdoB).

No Congresso Nacional

Outro que estará fora dos holofotes de campanha este ano é o senador Pedro Simon (PMDB). Ele alega motivações semelhantes a de Raul para deixar a vida pública: idade avançada e desapontamentos com a atividade política. No dia 31 de janeiro de 2015, Simon completará 85 anos, mesmo dia em que encerrará o seu mandato de senador. “Completo 65 anos de vida pública. O que tinha de ser feito já fiz”, avalia o parlamentar. Simon ocupou uma cadeira no Senado por 32 anos – com três mandatos consecutivos nas últimas décadas.

Pedro Simon: “O que se faz aqui é a correção de um grave erro histórico. A História é um trem alegre que atropela todo aquele que a negue”| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Pedro Simon: “É bom chegar ao final da vida, olhar para trás e dizer: eu combati um bom combate. Valeu a pena”| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O peemedebista confessa também desapontamentos com o atual cenário político. “A vida parlamentar está em uma situação muito delicada. A gente quer realizar um trabalho bem feito, mas entre querer e poder há uma diferença muito grande”, critica. E vai além: “Eu não espero nada do Congresso Nacional, nem do Governo Federal nem do Judiciário. Lamentavelmente, saio com essa impressão. Minha esperança é no povo brasileiro que saiu às ruas em junho do ano passado”, aponta.

Simon conta que, a partir do ano que vem, viajará pelo país para defender grandes causas como, por exemplo, a reforma do pacto federativo e a reforma partidária. “Faço isso menos do que gostaria, pois a vida parlamentar me impede. Pretendo convidar pessoas para fazer aquilo que o congresso não tem feito: debater com a sociedade e buscar as grandes reformas”, defende.

O senador diz não ter arrependimentos em sua vida parlamentar. “Fiz o que a minha consciência mandou. Posso ter acertado e ter errado. Mas a minha linha de ética e seriedade foi cumprida o tempo todo”, analisa. “É bom chegar ao final da vida, olhar para trás e dizer: eu combati um bom combate. Valeu a pena”, conclui.

Na Câmara Federal 

Outro parlamentar que afirma estar saindo de cena sem levar remorsos é o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB), que também não vai concorrer em 2014. “Não tenho queixa nenhuma. Tenho a noção de que devem surgir novos líderes. Já dei a minha contribuição. Vou para casa tranquilo de tudo o que fiz. Vou dar lugar para que outros façam, de preferência, mais e melhor do que eu”, justifica o peemedebista.

Foto: Leonardo Prado/Ag.Câmara
“Vou para casa tranquilo de tudo o que fiz”, diz o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB) | Foto: Leonardo Prado/Ag.Câmara

Conforme ele, a decisão de não concorrer teve início ainda em 2010, quando acabou dividindo o eleitorado com o deputado federal Alceu Moreira. “Não ia concorrer em 2010. Cedi a base para Alceu Moreira. Estava tudo ótimo, mas o partido precisou de mim”, recorda Padilha, que assumiu, como suplente, o mandato de deputado federal, na Legislatura 2011-2015 e, em maio, foi efetivado no mandato na Câmara. Padilha relata que irá seguir com a sua atividade como advogado e empresário após terminar o mandato.

Na Câmara Federal, a maioria dos deputados gaúchos  concorre à reeleição, com exceção de seis. Manuela D’Ávila (PC do B) e Enio Bacci (PDT) retornam ao Estado para tentar uma vaga na Assembleia. Além de Padilha, Vílson Covatti (PP) afirma que não irá concorrer e apoiará a eleição do filho, Luís Antônio Covatti.

Alto risco de derrota e dificuldade em captar recursos para campanha desmotivam candidatos, diz cientista político 

As explicações dos parlamentares que desistem de tentar a reeleição ou disputar outros cargos públicos são bastante particulares. Vão desde questões pessoais à decepção com a atividade política, como podemos verificar na fala dos parlamentares entrevistados pelo Sul21.

No entanto, conforme o cientista político Paulo Moura, coordenador do curso de Ciencias Sociais da Ulbra, há duas motivações que aparecem de forma constante. Uma é a avaliação da viabilidade eleitoral. “Em cada eleição o cenário interno e externo do partido muda. Principalmente, no que diz respeito a projeção de votação nas regiões onde ficam os redutos dos políticos. Se o político avalia que não se reelegerá, ele prefere não arriscar”, explica. Outra causa recorrente, segundo ele, está relacionada a captação de recursos. “Cada eleição fica mais difícil captar os recursos necessários para financiar as eleições”, esclarece Moura.

Com a desistência de figuras conhecidas na disputa pelo voto nas urnas, há a possibilidade de renovação de quadros na política, mas também um temor de que o espaço seja preenchido por pessoas inexperientes e com menor vocação para essa atividade. Conforme Moura, o índice de renovação no parlamento é, geralmente, de cerca de 30% a cada eleição. Isso acontece, conforme o analista, em função de uma sobrecarga negativa na imagem dos políticos, em especial, dos deputados. “A mídia direciona as matérias negativas preponderantemente contra esses parlamentares”, analisa. Para Moura, a cada eleição há um aumento gradual e significativo do voto nulo ou do voto pela renovação nas urnas. “Acho que nessa eleição será ainda mais expressivo esse movimento. É um raciocínio simplista do eleitor que resolve não votar em quem tem mandato e muitas vezes pune um bom parlamentar”, avalia.


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