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25 de novembro de 2014
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20:08

Moradores do entorno da construção da Nova Ponte do Guaíba ainda têm destino incerto

Por
Sul 21
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Obra deve ser concluída em 2017 l Foto: Divulgação/DNIT
Obra deve ser concluída em 2017 l Foto: Divulgação/DNIT

Caio Venâncio

Com as obras iniciadas no último dia 14 de outubro, quando ministros do governo federal estiveram em Porto Alegre para fazer o anúncio, a nova Ponte do Guaíba é aguardada há décadas pelos gaúchos. Os números do projeto impressionam: o orçamento é de cerca de R$ 649,6 milhões, a ponte terá 2,9 quilômetros de extensão, com vãos principais de 28 metros de largura. Igualmente impactante é a quantidade de residências e estabelecimentos comerciais que terão de ser removidas para dar lugar à obra: 1.031 unidades. Porém, enquanto as obras viárias já têm um consórcio responsável pela construção, projeto e cronograma definidos, as casas para aqueles que serão retirados de onde vivem seguem envoltas em incertezas.

A obra da segunda ponte do Guaíba está sob responsabilidade do consórcio Ponte Guaíba, formado pelas empresas Queiroz Galvão e EGT Engenharia. Serão 2,9 km de construção, além de 4,4 km de acessos – duas faixas de tráfego, refúgio central, lateral e acostamento – totalizando 7,3 km de obras. Os trabalhos começam a partir da intersecção das avenidas Dona Teodora e Voluntários da Pátria, finalizando na cabeceira esquerda da ponte sobre o Saco da Alemoa, passando pela Ilha do Pavão até a Ilha Grande dos Marinheiros. O empreendimento ainda prevê melhorias no sistema viário de Porto Alegre, como adaptações do acesso à Avenida Dona Teodora e dos acessos à BR-116 e BR-290, junto à Ponte do Saco da Alemoa, e melhoramentos na Avenida João Moreira Maciel. Considerada solução para desafogar o tráfego em um dos principais acessos à Capital gaúcha, a ponte deverá receber mais de 50 mil veículos diariamente, após sua conclusão, prevista para setembro de 2017. A obra vai gerar 2,25 mil empregos diretos.

Atual Ponte do Guaíba data de 1958 l Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini
Atual Ponte do Guaíba data de 1958 l Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini

Já as iniciativas para a remoção dos moradores,  em torno de 1.200 famílias, estão em outro ritmo. O levantamento sobre quem deve ser retirado foi concluído, apontando 1.031 unidades que estão na faixa de domínio da nova ponte ou junto ao Parque Estadual Delta do Jacuí. Deste total, são residências 998. Os outros 33 são comércios e instituições. O perfil predominante neste grupo são famílias de baixa renda, algumas das quais sem saneamento básico ou iluminação pública. Quase a totalidade dos realocados mora na Ilha Grande dos Marinheiros, além de grupos diminutos na Ilha das Flores e na Zona Norte de Porto Alegre.

Na espera

Contudo, ainda não há um terreno em posse do poder público que possa receber aqueles que terão de sair de suas casas na Ilha Grande dos Marinheiros. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Prefeitura de Porto Alegre e o Consórcio Ponte do Guaíba (responsável pela obra) estão em tratativas para adquirir quatro áreas que serão utilizadas para a construção das casas e apartamentos a serem destinados à comunidade impactada. Os imóveis serão construídos obedecendo aos padrões do programa federal Minha Casa, Minha Vida.

Assim que as áreas estiverem desapropriadas e os projetos dos loteamentos aprovados e licenciados, inicia-se a construção das casas. Estima-se que após o primeiro ano da construção serão reassentadas as primeiras famílias. Todavia, com o início da obra pela água, o Dnit acredita que o Consórcio Ponte do Guaíba terá tempo suficiente para realizar o reassentamento populacional, sem comprometer o cronograma da construção da nova ponte.

Morador da Ilha Grande dos Marinheiros que terá de deixar o lugar em que vive, o mecânico Cesar Höher critica o processo de remoção. Ele questiona o porquê de ter de sair de onde mora, pois, quando construída, a ponte ficará cerca de 300 metros distante. “Na inauguração, a primeira coisa que deveriam ter feito era a pedra fundamental de um dos condomínios que vai nos receber. Moro há 30 anos numa casa em que amarro minha rede nas árvores que plantei décadas atrás. Como terei isso em outro canto?”, indaga.

A área em que Cesar reside é composta por moradores com uma condição financeira um pouco melhor do que aqueles que hoje estão no que será o traçado da ponte. Ele argumenta que seus vizinhos têm uma posição semelhante à sua. “Querem nos tirar daqui para fazer um parque ecológico. Eles tinham é que fazer isso lá no lado das mansões, que foram os primeiros a ocupar a ilha. Não queremos ir para as casinhas apertadas de 50m² do Minha Casa, Minha Vida”, afirma.

Dona-de-casa e líder comunitária da Ilha Grande dos Marinheiros, Liane Farias participou de uma reunião de discussão entre líderes comunitários, o consórcio Ponte do Guaíba e Dnit na noite desta segunda-feira (24). O encontro não trouxe novidades ao caso, mas Liane acredita que está havendo transparência no processo. Ela própria não será afetada pelas obras, mas dois de seus filhos sim. Na próxima segunda-feira (1º de dezembro), uma nova reunião vai apresentar o projeto para a comunidade.

Até o momento, Liane se diz satisfeita com o que viu, mas está elaborando um documento com tudo aquilo que a comunidade deseja nas habitações. O material será entregue a vereadores, prefeitura e governos. “O projeto não inclui nada para lazer. Queremos que haja balanço, gangorra, pracinha. Hoje as crianças não têm o que fazer, só jogar bola no meio da rua”, expõe. E completa: “Eu achei o projeto interessante, mas quem vai decidir é a comunidade. Se não for da maneira como desejamos, vamos reivindicar. Este documento vai ser importante, porque sabemos que com estes políticos a coisa só funciona por meio da burocracia”, enfatiza.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do Dnit


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