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26 de agosto de 2014
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03:17

Semana da Diversidade Sexual da Fabico debate limites entre humor e opressão

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Felipe Kolinski e Vitor Hugo comentam vídeo do grupo “Põe na Roda” e sobre a perspectiva de produções das chamadas “minorias”  | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Débora Fogliatto

A II Semana da Diversidade Sexual e de Gênero da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufrgs (Fabico) iniciou sua programação nesta segunda-feira (25) com a mesa “Tu ri de quê(m)?”, em que quatro convidados debateram humor, preconceito, opressão e o “politicamente correto”. Antes da discussão, o ator Silvero Pereira apresentou seu monólogo Uma Flor de Dama, baseado no conto Dama da Noite, de Caio Fernando Abreu, em que interpreta uma travesti falando em um bar com um ouvinte desconhecido do público. Ele foi aplaudido de pé pelos estudantes que lotaram o auditório da Fabico.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Silvero apresentou o monologo “Uma flor de dama” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A mesa foi mediada pelo jornalista e apresentador do Programa Gay Vitor Hugo Xavier, que introduziu o debate exibindo partes do documentário “O Riso dos Outros”, de Pedro Arantes. O filme problematiza a questão das piadas preconceituosas, a partir da visão de humoristas, ativistas, intelectuais e políticos sobre o humor relacionado a minorias, questionando o que serve como piada e o que pode ser transgressor.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Grace sobre piadas com minorias, “É medíocre!” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nesse sentido, a atriz e humorista Grace Gianoukas, diretora do Terça Insana, destacou que “piadas que ridicularizaram e constrangeram minorias sempre existiram” e, por isso mesmo, não é inovador. “Esses caras irem pro palco e falarem que mulheres feias devem ser estupradas não é transgressor, é careta. Isso é muito reacionário e é de uma mediocridade”, afirmou, referindo-se a uma piada feita por Rafinha Bastos, que disse que homens que estupram mulheres feias “merecem um abraço”. Para ela, apenas contar piadas não faz de ninguém um artista, como acredita ser o caso do Danilo Gentilli e Rafinha Bastos.

A Terça Insana foi criada há 13 anos, em São Paulo, como um projeto humorístico apresentado toda terça-feira por diferentes atores interpretando personagens variados. “Criei a Terça Insana porque sempre me incomodou demais ver as minorias sendo ridicularizadas. Eu não aguentava mais esse preconceito, achava que a sociedade mudou e temos outras coisas para divertir”, contou.

Falando de uma perspectiva mais acadêmica, o pesquisador Felipe Kolinski utilizou vídeos e trouxe elementos da teoria queer para colaborar com a discussão. Ele exibiu um vídeo feito pelo grupo Põe na Roda, em que palavras que normalmente são tomadas como ofensas para gays são repensadas a partir de uma perspectiva de alguns homens gays. “Vivemos em sociedade homofóbica, heterossexista, cissexista. Mas o poder vem também das minorias, a partir da geração de novos significados, uma das características que o humor pode trazer”, ponderou.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Auditório da Fabico cheio | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe também exibiu dois vídeos que abordam a temática das drag queens, citando a pesquisadora Guacira Lopes Louro para refletir sobre binários de gênero e a ressignificação trazida por essas performances. “A drag realiza uma ‘paródia de gênero’, que coloca em xeque uma série de binarismos que marcam a cultura. A drag, quando se monta e constrói, não imita uma mulher, ela é uma hipérbole da mulher, é um superlativo desse feminino”, apontou.

Refletindo sobre humor, ele destacou que nem sempre aquele produzido por minorias é subversivo, lembrando que ser de um grupo oprimido não é garantia de que não se perpetue estereótipos.  Para exemplificar o ponto, ele mostrou uma paródia musical em que três drag queens cantam sobre homossexualidade masculina, fazendo piadas com os “gays ativos”. “Até que ponto esse humor é subversivo? Continuamos criando uma dicotomia, segregando determinados sujeitos. Vídeo feito por drag queens, gays e continua sendo machista, colocando o ativo num papel de dominação e o passivo no papel de submisso, colocando corpos como quem vale mais e quem vale menos”, afirmou.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
João Carlos Castanha “montado” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para completar a mesa, o ator e transformista João Carlos Castanha, que participou de drag, como faz a maioria de suas performances, falou do ponto de vista de alguém que trabalha com humor e é uma minoria. “Eu uso a minha pessoa para brincar, ridicularizo a mim mesma, gosto de botar minha cara a tapa. Importante é saber brincar com as pessoas”, observou. Ele criticou o tipo de humor que faz piadas com grupos oprimidos, apontando que é um absurdo ” uma pessoa pagar ingresso para ouvir ofensa”.

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Estudantes atentos | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A Semana da Diversidade Sexual continua até quinta-feira (28), com um Cinedebate sobre a Parada Livre nesta terça-feira (26), a mesa “Vivências LGBT” na quarta-feira (27) e, no último dia, “Relatos feministas”. As atividades acontecem no Auditório 1 da Fabico, a partir das 19h.


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