Opinião
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21 de dezembro de 2022
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06:43

Santos Soares, 200 anos (por Gustavo de Mello)

Estação Ferroviária em Livramento, em 1913. (Reprodução/Marlon Aseff)
Estação Ferroviária em Livramento, em 1913. (Reprodução/Marlon Aseff)

Gustavo de Mello (*)

O município de Santana do Livramento completa 200 anos em 2023. 

A data é resultado de leis e decretos que transformam o ano de 1823 em marco de fundação. O coletivo Santos Soares é uma organização civil de brasileiros e uruguaios, nascidos na linha divisória, que se preparam para os festejos de fundação, mas sem esquecer de nada e nem de ninguém. Querem ir além dos papéis, documentos oficiais com datas e comemorar este aniversário especial com um método que inclua a história de todos. A técnica será fazer perguntas ao passado, verificar se há uma, ou se há muitas formas de contar a história dos pioneiros e dos episódios que foram assegurando o desenvolvimento da cidade. 

Santos Soares é um coletivo democrático de perguntadores civis e militares. A primeira pergunta que se fazem é “se vamos continuar esquecendo”. 

Neste território havia florestas. Quantas imensas e milenares araucárias ajudavam a cercar a mata fechada, a vegetação intransitável; tudo bem antes da fundação das pequenas casas em forma de cidade. Havia milhares de cabeças de vacuns se esgueirando entre incontáveis pequenos córregos de água e vertentes e seres humanos seminus, arredios; bem antes que chegassem os representantes dos interesses da coroa portuguesa? 

Santos Soares foi líder dos trabalhadores fronteiriços (Reprodução/Marlon Aseff)

Quem são os homens que chegaram e o que faziam dos escravizados transportados, caminhando léguas e léguas, desfalecendo e acompanhando o silêncio do ruído das carretas com utensílios dos que, no futuro, morariam longe dos galpões depois de fazer casas de pau a pique. 

 Santos Soares quer saber como remuneravam o trabalho. Havia salários e as crianças trabalhavam quantas horas e se estudavam; se o trabalho era de sol a sol e se havia títulos, documentos, eles eram distribuídos para todos como queria José Gervásio Artigas com as instruções do ano 1815. 

Quando ficavam doentes, amarelos, febris e delirantes quem era ou de quem era uma voz que acalmava, benzia e prometia curar às chagas e a falta de dias sem carne gorda? Os apagados da história não fazem parte dos 200 anos, não ganham monumentos, placas de bronze e honrarias para que os familiares se orgulhem?

Afinal perguntam e não encontram respostas. Há uma rua na cidade que refira o nome completo, indicando a profissão e as datas de nascimento e morte de Santos Soares? Pedem que sejam consultados os anais para verificar se um ex-deputado que dizem é um escritor, autor do livro “Os Ratos”, em discurso da tribuna da Assembleia Legislativa, citara santanenses para denunciar que trabalhadores de frigoríficos estavam sendo espancados e vítimas da truculência patronal que se valia da polícia, insultando e ofendendo trabalhadores como se fossem ratos que deviam ser mortos a pauladas? 

Santos Soares não fez sucesso fora da cidade, mas ao que parece era conhecido por lideranças políticas que enfrentaram a ditadura do Estado Novo comandado por Getúlio Vargas. Santos amava o convívio familiar, convidava os vizinhos para comer churrascos em sua casa no Cerro de Rivera? Ninguém conhece essa história, nós queremos saber. Para festejar o aniversario de Santana do Livramento é preciso contar a verdade, sem esquecimentos e com justiça.

(*) Gustavo de Mello é integrante do Coletivo Santos Soares, bacharel em Direito e Conselheiro de Saúde em Santana do Livramento

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