Opinião
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4 de novembro de 2022
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14:56

Bolsonarismo: investigar, julgar e punir (por Luciana Genro)

Em São Miguel do Oeste (SC), apoiadores de Bolsonaro cantaram hino nacional fazendo saudação nazista (Reprodução)
Em São Miguel do Oeste (SC), apoiadores de Bolsonaro cantaram hino nacional fazendo saudação nazista (Reprodução)

Luciana Genro (*)

Bolsonaro foi derrotado. Mesmo com toda a utilização da máquina pública a seu favor, cujo ápice foram os bloqueios da PRF no dia da eleição. Mesmo com boa parte da patronal chantageando seus empregados. Mesmo com a enxurrada de fake news. Mesmo com os púlpitos das igrejas virando palanques bolsonaristas. Tudo isso não foi suficiente. Bolsonaro foi o primeiro presidente que concorreu à reeleição e perdeu.

Mas sua derrota eleitoral não significa o fim do bolsonarismo, como mostram as patéticas manifestações golpistas dos últimos dias. A ascensão da extrema direita é um fenômeno mundial cujas múltiplas razões vão além do objeto deste artigo. O fato é que o combate a esta vertente política que defende ditadura, discriminação a negros, LGBTs e mulheres, eliminação física da esquerda e de outros grupos divergentes precisará seguir. O resultado eleitoral nos deixa em melhores condições para essa luta. A vitória de Lula expressou um movimento democrático tão importante quando a unidade para enfrentar a ditadura imposta de 1964 a 1984. 

Muitas lições para hoje podemos resgatar daquele processo. Uma das mais importantes é não repetir a impunidade. O Brasil não fez como deveria a persecução penal e a responsabilização dos políticos e agentes públicos que agiram criminosamente durante a ditadura. Este foi, sem dúvida, um dos elementos que permitiram prosperar uma extrema direita golpista, reacionária, violenta e autoritária. 

A lista dos crimes de Bolsonaro e seus seguidores é ampla: omissão deliberada e negacionista no combate à pandemia, violência política e eleitoral, escândalos de corrupção acobertados por sigilos de 100 anos, ataques ao trabalho da imprensa, a tentativa de voto de cabresto através da pressão empresarial sobre seus empregados e as mobilizações golpistas após a vitória de Lula. Jair Bolsonaro é responsável direto pelo estado de delinquência política instalado no país. É preciso investigar seus crimes e garantir que ele responda por tudo que fez. Mas não apenas ele: todos os líderes nacionais e regionais que se envolveram em crimes devem ser investigados, da política à iniciativa privada, em um esforço que envolva o conjunto da sociedade e suas organizações.  

Não se trata de revanchismo, muito menos de vingança. É sobre a defesa das liberdades democráticas e dos avanços civilizatórios que conquistamos até aqui e que são colocados em xeque pelos delinquentes políticos da extrema direita. Não se pode normalizar a barbárie, o autoritarismo, o discurso de ódio, os pedidos de golpe militar e as saudações nazistas. É preciso agir: investigar, julgar e punir. Verdade, Memória e Justiça, para que nunca mais aconteça!

(*) Advogada, deputada estadual e presidente do PSOL-RS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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