Opinião
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28 de outubro de 2022
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17:04

O segundo turno em números (por Marcelo Duarte)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Marcelo Duarte (*)

Estamos na reta final do segundo turno destas eleições de 2022. Daqui a dois dias, Luiz Inácio Lula da Silva será eleito para seu terceiro mandato ou Jair Messias Bolsonaro será reeleito Presidente da República.

Desde a eleição de 1989, as urnas vêm confirmando as projeções de segundo turno realizadas por institutos de pesquisas eleitorais. Ou seja, caso essa tendência se repita nesta reta final, Lula será eleito Presidente com aproximadamente 52% dos votos válidos. Alguns números podem nos ajudar a compreender essa projeção. Vamos a eles:

Lula venceu o primeiro turno com 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% de Bolsonaro. Em números, o candidato do Brasil da Esperança fez 57.259.504 votos, contra 51.072.345 de seu oponente – uma diferença de 6.187.159 votos.

Estarão efetivamente em disputa, neste segundo turno, os 4.915.423 votos dados a Simone Tebet, MDB (4,16%), os 3.599.287 de Ciro Gomes, PDT (3,04%), os 600.955 de Soraya Thronicke, UNIÃO, (0,51%) e os 559.708 de Felipe D’Avila, NOVO (0,47%) – um total de 9.675.373 votos, ou 8,18% dos válidos.

A rigor, os 222.497 votos (0,19% dos válidos) dados a Padre Kelmon, PTB, Léo Péricles, UP, Sofia Manzano, PCB, Vera, PSTU, e Eymael, DC, também estarão em jogo. Todavia, como constituem, todos eles, uma parcela significativamente inferior àquela obtida pelo candidato Felipe D’Avila, o último colocado dentre aqueles que obtiveram uma votação entre 0,1 e 1%, e tendem a se distribuir equitativamente entre Lula e Bolsonaro, não são um fator capaz de desequilibrar o segundo turno entre os candidatos do PL e do PT.

A abstenção nesse primeiro turno foi de 20,95% – o equivalente a 32.770.982 eleitores, num universo de 156.453.354 habilitados para a eleição. Compareceram às urnas 123.682.372 deles – desses votos, 118.229.719 foram considerados válidos (95,5%), 3.487.874 foram nulos (2,82%) e 1.964.779 foram em branco (1,59%).

Para efeitos de comparação, no segundo turno das eleições de 2018, 104.838.753 votos foram considerados válidos (90,43%), 8.608.105 foram nulos (7,43%) e 2.486.593 (2,14%) foram em branco. A abstenção, naquela eleição, foi de 20,3% – um percentual semelhante ao registrado no primeiro turno desta eleição de 2022 (20,95%). Impressiona, porém, o número de votos brancos e nulos naquele segundo turno, que chegaram a 9,57% dos votos válidos, ou a 11.094.698 votos – tal número já havia sido alto também naquele primeiro turno.

Portanto, a diminuição de votos nulos e brancos no primeiro turno destas eleições de 2022 parece indicar que tais percentuais irão se repetir neste segundo turno, o que sugere que, neste pleito, há um maior grau de posicionamento do eleitor em relação à disputa e uma efetiva solidificação de votos – daí nossa tese de que estarão efetivamente em disputa, neste domingo, 30 de outubro, os votos dados aos candidatos derrotados em primeiro turno, que totalizaram 8,37% dos votos válidos.

Assim, desde que se conservem, neste segundo turno, os votos dados a Lula e Bolsonaro, bem como os percentuais de votos brancos e nulos e a abstenção, o atual Presidente da República precisaria conquistar, aproximadamente, 60% dos votos dados no primeiro turno a Tebet, Gomes, Thronicke e D’Avila para aproximar-se da votação do petista – a diferença entre ambos foi de 6,1 milhões de votos. Restariam, portanto, 40% daqueles votos, dos quais Bolsonaro precisaria arrebanhar a maior parcela a fim de vencer o segundo turno. Ou seja, Bolsonaro teria a ingrata tarefa de conquistas aproximadamente 8 em cada 10 votos efetivamente em jogo neste segundo turno.

O cenário, nesse sentido, favorece ao petista, que conta com o apoio de Simone Tebet e de Ciro Gomes, que detêm os percentuais mais significativos dos votos em disputa no segundo turno dados a candidatos que disputaram o primeiro – ambos detêm 88% deles. É bastante provável que os votos dados à candidata unionista e ao NOVO migrem para o atual Presidente, mas, ainda assim, ele precisaria abocanhar uma generosa fatia daqueles dados aos candidatos que hoje apoiam a volta de lula à Presidência da República.

Outro fator significativo a ser levado em consideração é o percentual de abstenção – equivalente a assustadores 30,25% dos votos dados a Lula e Bolsonaro, ou 3,3 vezes a votação obtida por Tebet, Gomes, Thronicke e D’Avila.

Os 20,95% de abstenção verificados nesse primeiro turno são semelhantes aos 20,3% registrados no segundo turno de 2018, o que indica que tais números permanecerão na casa dos 20% no próximo domingo, 30 de outubro.

Caso isso aconteça, a tendência é a eleição ficar nas mãos dos votos efetivamente em disputa: aqueles dados a candidatos que não estarão neste segundo turno. Nesse caso, o cenário favorecerá ao candidato petista, como afirmamos acima.

Todavia, caso a busca de ambas as candidaturas por tais votos consiga reverter essa tendência, trata-se de um número capaz de derrubar as mais otimistas previsões e todo e qualquer prognóstico eleitoral, por mais fundamentado cientificamente que seja. Simplesmente não há como se prever um cenário sujeito a tamanha oscilação. Para que se tenha uma ideia de seu impacto no resultado, 3 pontos percentuais a menos de abstenção equivalem a aproximadamente 4,6 milhões de votos – isso dá quase metade dos votos dados a todos os outros candidatos no primeiro turno destas eleições de 2022.

O cenário, portanto, favorece Lula, vitorioso no primeiro turno com uma diferença superior a 6 milhões de votos, número equivalente a aproximadamente 60% dos votos efetivamente em disputa neste segundo turno.

Isso significa, na prática, que o atual Presidente da República precisa, no segundo turno, obter aproximadamente 6 de cada 10 votos em disputa a fim de igualar a votação de Luiz Inácio Lula da Silva, para só a partir daí disputar, com Lula, os restantes 40% – esse é um cenário que exige que se mantenham as votações obtidas por ambos no primeiro turno, bem como o número de votos em branco, nulos e a abstenção.

Já para vencer a eleição, Bolsonaro teria a ingrata tarefa de conquistar aproximadamente 8 em cada 10 votos efetivamente em jogo neste segundo turno.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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