Opinião
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18 de outubro de 2022
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13:40

Luto pela raça, luto pela cor (por Maister F. da Silva)

Caso recente de injúria racial contra o cantor Seu Jorge teve grande repercussão em Porto Alegre. Foto: Reprodução
Caso recente de injúria racial contra o cantor Seu Jorge teve grande repercussão em Porto Alegre. Foto: Reprodução

Maister F. da Silva (*) 

Com toda a clareza intelectual que fez de Seu Jorge um dos músicos mais completos da atualidade, ele quebra o silêncio e expõe a face racista e colonial da elite gaúcha, que agora busca transferir aos tribunais a decisão de julgar se seus atos covardes e mesquinhos são racismo ou não. Ora, a elite acostumou-se às leis, a ter as leis a seu favor, não se acostuma ao julgamento da sociedade, especialmente ao julgamento do povo negro, ao julgamento das mulheres e dos brancos antirracistas que vem liderando um conjunto sólido de transformações que tem se transformado na busca constante de/e ocupação de espaços de poder que a branquitude racista detinha para si e seus filhos.

O vídeo breve publicado pelo cantor faz lembrar o livro clássico de Florestan Fernandes “O negro no mundo dos brancos”. Tomando a história do Brasil desde a abolição da escravatura o povo negro luta de forma persistente para redefinir a condição social de ex-escravo e afirmar-se como trabalhador livre e como cidadão, por “igualdade perante a lei”. A luta nos tribunais é sempre desigual, a justiça é política e controlada por tribunais em sua maioria brancos. Desde sempre o povo negro lutou e continua a lutar contra toda sorte de manifestações de desigualdade racial, no emprego, na escola com a educação eurocêntrica, no acesso a moradia e ao próprio direito de viver. É retórico, mas infelizmente é atual, a juventude negra é a que mais morre por mortes violentas no país.

Octavio Ianni dizia que a malfadada “democracia racial brasileira” foi uma técnica social desenvolvida pelos brancos, pela qual os mesmos segundo as exigências de sua classe social procuram estabelecer as condições e o alcance da atividade e da mobilidade social do negro, como pessoas e como grupos sociais. O caso de racismo sofrido por Seu Jorge, as ações jurídicas movidas contra Djonga pela frase “fogo nos racistas” proferida por ele em seus shows é a face nua do conceito criado por Ianni. O branco não suporta que o negro fale o que pensa ou que faça o que fale, lhes dói, fere o privilégio branco.

Seu Jorge terminou seu comunicado com um chamado à ação e organização, nem todas as guerras são travadas com armas. Essas, nossos antepassados já empunharam, quando não lhes restou alternativa. Todavia, quando nos tentam subjugar é nessa seara que o enfrentamento é posto, e, como afirmou Seu Jorge, vamos vencer essa guerra contra o inimigo exposto, ocupar as ruas, denunciar publicamente, usar todos os meios possíveis para expor os indivíduos e intuições racistas. Por nós, por amor…

(*) Graduando em Administração Sistemas e Serviços de Saúde da UERGS

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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