Opinião
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26 de outubro de 2022
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16:43

Lá se vai a Redenção, o boi e as cordas (por Karen Santos)

Parque da Redenção | Foto: Joana Berwanger/Sul21
Parque da Redenção | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Karen Santos (*)

“Foi-se o boi com as corda”. Eu gosto de expressões populares! Assim, escritas como se fala mesmo. Elas são uma forma simples e certeira de comunicar o que nos aflige, nos machuca, nos movimenta, ditas de uma maneira que todo mundo entende, e às vezes sai até um debochezinho nas suas entrelinhas (necessário, porque, óh, tá difícil). É o nosso jeito de dar a real. 

Falando em dar a real, hoje o papo aqui é sobre a Redenção, que está indo para mãos privadas igual aos bois que se vão com as cordas. 

O prefeito Melo – demagógico que foge de dizer o que as coisas realmente são, assim como diabo foge da cruz – quer privatizar praças e parques da cidade, começando pela Redenção (juntamente com o Calçadão do Lami, o Marinha e o trecho 3 da orla do Guaíba). Melo usa a expressão “concessão”.

Como lobo em pelo de cordeiro, a concessão é a entrega por décadas do que é público para quem tem grana sob a falácia de controle público. A ideia é privatista, mesmo que depois de “míseros” 30 anos, o que foi concedido seja “devolvido”. 

O Prefeito usa a mesma retórica mofada de sempre para justificar seu projeto privatista: diz que não tem dinheiro público (mesmo o orçamento da cidade para 2023 ser de mais de 10 bilhões); que a iniciativa privada gestiona melhor (o que é um atestado de sua incompetência enquanto administrador), que os espaços públicos estão sucateados… ah, esse é política pensada! Primeiro tira o investimento, não cuida, abandona, não pensa um projeto sério de segurança (que vá além do velho pensamento policialesco de sempre), daí é só esperar o tempo passar e vir com o papinho da privatização como solução mágica. É… tudo é muito bem pensado.

Bem pensado e bem articulado. Não vamos nos esquecer que os vereadores da base do governo Melo na Câmara aprovaram no ano passado uma lei que retira a necessidade de plebiscito para autorizar (ou não) o cercamento de praças e parques da cidade. E mais uma cereja nesse bolo de conveniências: sabem quem foi um dos autores desta lei antidemocrática? O atual vice-prefeito Ricardo Gomes, o grande representante da burguesia imobiliária e privatista da cidade.  

E quando pinta iniciativa privada na jogada, nunca é demais lembrar que não há almoço grátis! Em troca da gestionar “benevolentemente” a Redenção, a empresa que ganhar a concessão vai lucrar cobrando por estacionamento. E está se falando em um esdrúxulo estacionamento subterrâneo. Mano, a Redenção é uma terra de várzea, alagada. Aqui tem um problemão ambiental que está sendo jogado para baixo do tapete. Mas, e se não for subterrâneo o tal do estacionamento? De alguma forma a empresa vai tirar seu rico lucro por 30 anos. Não há almoço grátis…

O boi está indo, mas ainda não se foi com as cordas. É preciso resistir com a faca entre os dentes! 

É preciso democratizar cada vez mais o acesso aos parques da cidade, inclusive da galera das periferias – lembram quando tinha passe livre um domingo por mês? Falando em ônibus, não nos esqueçamos que o transporte da cidade é concedido à iniciativa privada. Bom, e aqui não precisamos falar mais muita coisa sobre o “acerto” das concessões né… 

O histórico território negro da Redenção deve se abrir cada vez mais para o nosso povo, e não nos restringir, privatizando tudo: nossos espaços, nosso lugar de descansar, de se divertir, curtir artistas locais, brincar o carnaval, passear, tomar um chimarrão, andar de bicicleta, correr (de sunga), amar, desligar do tempo contado, controlado, sufocante do trabalho e sua lógica privatista.   

Ao invés de privado, público. De cercado, escancarado para todo mundo. É óbvio que sabemos que as praças e parques da cidade têm muitos problemas, mas as soluções devem ser pensadas coletiva e popularmente. 

E se eles não querem que o povo que batalha decida, se querem nos tirar da festa (e das praças), como sempre (tentaram) fazer, nós vamos pelas brechas (como diz o Simas). 

E é assim, com a certeza que o que é nosso tem que ser debatido e decido por nós, que te convidamos a botar a boca no trombone. A dizer o que pensas sobre o processo privatista da Redenção. Te manifesta!

  E, nessa brecha, te convidamos a assinar o abaixo-assinado contra a privatização disfarçada de cordeiro da concessão.

Bora? Só a luta coletiva muda a vida!  

(*) Vereadora do PSOL em Porto Alegre (Coletivo Alicerce, Mandato do Povo que Batalha) 

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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