Opinião
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29 de outubro de 2022
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17:50

Amanhã é dia 13 (por Luciana Burlamaqui)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

Luciana Burlamaqui (*)

Hoje, véspera da eleição, é o dia em que a gente está se perguntando mais uma vez: como chegamos a isso? Por que as pessoas votaram neste ser inominável? Podemos ter várias respostas, como: a rejeição ao PT, ao Lula, muitos terem acreditado em tudo o que a Globo martelava 24 horas na sua programação jornalística contra o PT e contra a esquerda (principalmente durante a “Operação Lava Jato”), a tendência egoísta do mercado de só olhar para o próprio umbigo, a ignorância de muitos que acham bacana um homem metido a macho ser herói de mentirinha, enfim, de tudo fica uma certeza: há um enorme déficit de politização cidadã no Brasil, que exigirá décadas de trabalho pontual em todos os cantos deste país. 

Esta alfabetização civilizatória precisará passar tanto pelos livros nas escolas, pelas conversas em grupos religiosos de bairro, como por políticas públicas que tragam conhecimento plural e ferramentas para ajudar o brasileiro a interpretar a mídia e as redes sociais, a fim de evitar que a sua mente e o seu intelecto sejam literalmente abduzidos por manipulações baratas e persistentes, oriundas de todas as formas possíveis de comunicação, da era digital.  

Não dá para ignorar que o Brasil hoje tem grande parte de sua população caracterizada por uma espécie de fundamentalismo religioso arcaico, que torna as pessoas reféns de seus próprios carrascos. Temas como pátria, família, drogas, comunismo e gênero, de mãos dadas com outros como: Deus, Jesus, missão divina e luta do bem contra o mal, viraram conteúdo monotemático nos argumentos daqueles que votam no inominável. É uma espécie de vácuo, criado por essa falta de politização, que é facilmente preenchido por falsas teorias religiosas e fortemente moralistas que dialogam com o pecado e a salvação. A fé do brasileiro foi brutalmente explorada sem pudores. Este espaço vulnerável e sensível, muito presente na persona do brasileiro – que ainda por cima tem dificuldades materiais de toda a espécie – é alvo fácil de captura pelas raposas políticas mitômanas que acordam e dormem magnetizadas pelos cifrões de muitos dígitos. 

O certo é que se amanhã o 13 vencer, precisamos imediatamente aprender a lição de que não podemos deixar o brasileiro longe do conhecimento e da cultura. A fome do Brasil hoje começa pelo corpo, mas também é escandalosa quando se fala da ausência da formação cidadã. 

Vamos votar 13 e lutar para plantar sementes humanistas que cresçam de forma vigorosa, para que em algumas décadas, o brasileiro, em sua maioria, quem sabe, possa compartilhar com o mundo, sua inata capacidade criativa – que certamente poderá ser muito útil se a ela for incorporada uma visão mais evoluída e responsável do que é viver de forma comunitária e cooperativa, na nossa micro e macro passagem por este planeta. 

(*) Luciana Burlamaqui é jornalista, cineasta e poeta. Diretora do documentário Entre a Luz e a Sombra sobre a prevenção à violência no Brasil e autora do livro de poesias Quiseramor. É sócia da produtora de filmes Zora Mídia e da Editora Histórias para Contar.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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