Opinião
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3 de outubro de 2022
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13:32

A extrema-direita venceu para o Legislativo. E agora? (por Milton Pomar)

Foto: Joana Berwanger/Su21
Foto: Joana Berwanger/Su21

Milton Pomar (*)

O minuano da extrema-direita bateu forte no Sul, movido a muito dinheiro, e venceu para o Senado nos três estados da região. Foram eleitos ainda, com votações gigantescas, muitos deputados e deputadas estaduais e federais. Para o governo, foi reeleito o do Paraná, e estão no 2º turno no RS e SC dois “homens do presidente” de extrema-direita. Dos 27 eleitos, 20 são “bolsonaristas”, segundo o que foi divulgado. Tantos senadores e senadoras de extrema-direita significam pressão crescente sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), alvo permanente do atual presidente, que tem anunciado seu projeto de poder livre do contrapeso do Judiciário (ele sabe que com Orçamento conquista os votos que precisa no Legislativo).

Sobram análises sobre a enorme pressão religiosa e os “erros” das pesquisas (ainda que dentro da margem de erro), faltam sobre a montanha de dinheiro investida por empresários de extrema-direita do Sul do País em seus candidatos e candidatas – talvez porque esse dinheiro não aparece em prestações de contas oficiais e muitos acreditem que o “caixa dois” não existe mais. Lembrando que compra de votos e “caixa dois” sempre andaram juntos. (Há disponível a prova dos nove, sobre dinheiro de “caixa dois”, compra de votos e o atuante financiamento empresarial: candidatos e candidatas de esquerda eleitos para o governo com mais da metade dos votos, cujos deputados e deputadas somam meros 10%-15% do legislativo estadual…)

Sim, como era cogitado, a abstenção foi muito alta novamente – um quinto do eleitorado não quis ou não pode votar. E é provável que os 38% dos eleitores(as) de Ciro que se declararam de direita tenham migrado para o voto “útil” no candidato de extrema-direita, já que seu candidato primeiro adotou posicionamento semelhante ao dele na campanha. 

Há pouco tempo – temos ainda campanhas para ganhar – e faltam números e outras informações para análises mais demoradas, mas é inegável que no 1º turno muito se argumentou para ganhar o voto para deputados e deputadas dos partidos de esquerda e pouco para o Senado e Lula. Havia a noção de que o presidente estava garantido (e em alguns estados também o senador), mas os deputados ou deputadas não.

Logo após a confirmação de que haverá 2º turno, o atual presidente, ao ser entrevistado, pontuou as questões ideológicas que trabalhará, e, para não deixar dúvidas sobre o estilo que continuará sendo empregado, afirmou que o “agro acabará” se o seu adversário ganhar e fizer mais reservas indígenas conforme anunciou.

Enfrentar a ofensiva ideológica (e barbaramente mentirosa) da extrema-direita exige partir para o enfrentamento nas questões decisivas para a maioria da população, ao invés do agradável “o amor vencerá o ódio”. Com esse 1º turno de 2022 ficou mais que comprovado que muita coisa mudou no Brasil, desde a campanha de 1989, na compreensão do eleitorado e nos métodos e meios de se fazer campanhas eleitorais. Mudou até a forma de comprar voto. O que não mudou foi o investimento financeiro do empresariado em seus candidatos e candidatas, para todos os cargos. Consequentemente, segue firme e forte a corrupção, porque onde há dinheiro investido, há a exigência de retorno dele, das mais variadas e criativas formas. Não é assim?

(*) Geógrafo, mestre em Políticas Públicas.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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