Opinião
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21 de setembro de 2022
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20:29

O que está em jogo dia 2 (por Milton Pomar)

Urnas eletrônicas que serão usadas no RS na eleição. (Foto: Luciano Velleda/Sul21)
Urnas eletrônicas que serão usadas no RS na eleição. (Foto: Luciano Velleda/Sul21)

Milton Pomar (*)

O que está em jogo no Brasil dia 2 de outubro é a Vida. Muito mais que a “qualidade de vida”, tão fácil na boca de uns e outras durante as campanhas eleitorais. A vida de 63 milhões de pessoas com baixa renda e sem renda, das quais mais da metade está passando fome; de 33 milhões de pessoas idosas; de 10 milhões de desempregados; e de um milhão de indígenas. E toda a vida que há na Natureza, a fantástica biodiversidade que ainda resiste nos biomas Pampa, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Amazônia e Semiárido.

O que está em jogo dia 2 de outubro no Brasil é a continuidade da Destruição como ideologia e projeto de governo, com os resultados mundialmente conhecidos, da liberação das queimadas e consequente destruição de mais de um milhão de hectares de florestas por ano, com a carbonização de incalculável quantidade de animais e plantas. 

O Brasil foi responsável por 40% da destruição florestal mundial, no período 2019-2021, e 2022 caminha no mesmo ritmo. Mais um mandato do atual presidente da República e da sua política de devastação e o que restar da Amazônia não será mais suficiente para reverter a sua transformação em savana. 

Bolsonaro disse a lideranças conservadoras norte-americanas, em jantar em Washington (EUA), na noite de 17 de março de 2019, que o sentido de seu governo “não é construir coisas para o povo brasileiro”, mas desconstruir: “O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa.” 

Destruição ambiental, destruição da Economia Popular – um terço da população brasileira com baixa renda, sobrevivendo em condições dramáticas: 62,9 milhões de pessoas com renda domiciliar per capita de R$497 mensais, em julho de 2022 –, e inacreditáveis 95% da população brasileira ganhando menos do que R$6.298,91, salário mínimo calculado pelo Dieese

Tanta destruição explica a “explosão” da quantidade de pessoas em situação de rua nas maiores capitais – São Paulo, a cidade mais rica da América do Sul, é hoje um grande acampamento de milhares de famílias que não conseguem mais pagar aluguel e estão sem trabalho fixo. E explica ainda porque tão somente 41,3% da população brasileira tem segurança alimentar, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), concluído em abril de 2022. A próspera região Sul do Brasil, grande produtora de alimentos, tem 6,5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave. No Rio Grande do Sul, 14% da população encontra-se em “situação de insegurança alimentar grave” – eufemismo para “pessoas passando fome”. 

Destruição do Estado, expressa no domínio crescente de milicianos e na liberação por decreto presidencial da aquisição de armas e munições, com números assustadores da quantidade em mãos de civis (registro geral) e de colecionadores, atiradores e caçadores (CAC) – categoria hoje próxima de 700 mil integrantes (aumento de quase 500%, de 2018 para 2022), ultrapassando os efetivos das Forças Armadas e das polícias militares. Os CAC podem ter até 60 armas e absurda quantidade de munições. Como armas custam muito caro, é evidente que é a parcela de alta renda da população brasileira que está se enchendo de fuzis de guerra e pistolas automáticas modernas, de tipo semelhante às utilizadas nos massacres de estudantes e professoras(es) nos Estados Unidos. 

Essa ideologia da destruição, no poder desde janeiro de 2019, revelou-se letal na gestão da pandemia da Covid, inicialmente negando o perigo, em seguida criando a ficção do “tratamento precoce”, e por último retardando a aquisição de vacinas e contestando a sua eficácia. Crimes continuados, que resultaram, de 2020 a agosto de 2022, em quase um milhão de mortes por excesso no Brasil

Com 3.188 mortes (números oficiais) por milhão de habitantes, e mais de 10% do total oficial – com menos de 3% da população mundial –, o Brasil apresentou um dos piores resultados do mundo no enfrentamento da Covid. Mais da metade dessas mortes poderiam ter sido evitadas, como ocorreu em tantos outros países nos quais os governos agiram de maneira responsável. 

É isso que está em jogo dia 2. 

(*) Geógrafo, mestre em Políticas Públicas.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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