Opinião
|
28 de agosto de 2022
|
15:42

O Guardião Tanaru (por Roberto Liebgott)

Reprodução/Funai
Reprodução/Funai

Roberto Liebgott (*)

Corria em meio à mata, protegia-se dos algozes, eram sempre muitos, os armados genocidas.

Escondia-se em buracos, útero da Mãe Terra, que se tornara o único abrigo confiável e possível, espaço de amparo, segurança e descanso.

Preferia às árvores, os insetos, às aves, os bichos todos ao homem branco, bruto, covarde e ganancioso.

Durante décadas ele ficou só, não havia ninguém mais a defender aquele lugar de ser e viver dos seus antepassados, dizimados por fazendeiros e madeireiros.

O corpo envelheceu e cansou, ocasião em que tomou emprestado das araras irmãs, algumas penas multicor, confeccionou a roupa ritualística de partida, construiu o tapiri, armou a rede, vestiu-se, deitou-se e adormeceu.

Sua missão havia sido cumprida e agora o momento será de reencontro com os ancestrais, os espíritos de luz, que festejam a chegada do seu guardião da Terra.

(*) Cimi Sul – Equipe Porto Alegre

Em homenagem ao “índio do buraco”, Tanaru, o último sobrevivente de um massacre promovido por fazendeiros e madeireiros, em Rondônia, na década de 1990. Ele foi encontrado morto no dia 24 de agosto por agentes da Funai.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora