Opinião
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9 de agosto de 2022
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14:16

Era uma vez um parque… (por Mario Luiz Rangel)

Imagem de projeto apresentado por empresa para a Orla do Guaíba. | Foto: Imagic
Imagem de projeto apresentado por empresa para a Orla do Guaíba. | Foto: Imagic

Mario Luiz Rangel (*)

Parque. Vou iniciar pela definição contida no Wikipédia: Um parque (do francês parc) é um espaço comumente chamado de “área verde”, geralmente livre de edificações e caracterizado pela abundante presença de vegetação, protegido pela cidade, pelo Estado/província ou pelo país no qual se encontra, destina-se à recreação, e à preservação do meio ambiente natural. Desta forma, um parque pode ser caracterizado como urbano ou natural. 

Sim, estamos perdendo um parque, o Parque da Harmonia. É isso… pois ali será local onde uma empresa vai lucrar por 35 anos, com ideias mirabolantes, que seriam bem-vindas, se fossem em um local adequado e de propriedade desta empresa. Mas não, estamos perdendo um parque.

O Parque da Harmonia é um parque urbano. Foi criado na década de 1980, no Centro Histórico de Porto Alegre, com o objetivo de manter acessa a cultura campeira, simples, e altiva do ideário de gaúcho. Com espaço de churrasqueiras a sombra das árvores, uma churrascaria com apresentação de espetáculos culturais, um centro de eventos e muito verde (que é a tônica de um parque). Neste parque também iniciou-se o Acampamento Farroupilha. A princípio, os “gaudérios” vinham para a capital para desfilarem no 20 de setembro, e pernoitavam acampados no parque. Cresceu e se tornou um grande evento da cidade em todos os meses de setembro.

Estamos perdendo um parque.

Sim, este parque, está área verde urbana, onde as pessoas podiam ter um contato mais direto com o que restou de natureza em Porto Alegre, está prestes a se tornar uma coisa tipo Beto Carreiro World. Mas em vez de ser em uma área particular, adquirida para este fim, a empresa ganhou da prefeitura o Parque da Harmonia para realizar o seu negócio… simples, fácil e lucrativo.

Sim, como todo o bom governante/administrador neoliberal, privatizar o que é do povo, o que é público, é top. São incompetentes para gerir o que não é de sua propriedade, então entregam. Não é diferente na nossa cidade, onde os últimos prefeitos e vereadores, entregaram nossos parques urbanos a iniciativa privada e, estes, fazem o que querem para, óbvio, lucrarem. 

O caso do Parque da Harmonia é gritante a mudança da paisagem de um parque urbano para um parque de diversões, onde as “atrações” serão cobradas, em um espaço que é da cidade e do seu povo.

Quem tem acesso ao projeto, e tem uma visão geral dos objetivos da empresa, vê nitidamente o viés mercadológico de um parque temático estilo Beto Carreiro e, reafirmo que, no caso do Parque da Harmonia, em um espaço público. Quer dizer, a prefeitura, na gestão do atual perfeito, privatizou o parque. Privatizou o espaço público. Privatizou o que resta de natureza no centro de Porto Alegre. E o pior é que, a natureza, vai dar lugar a inúmeras construções de milhões de reais que vão gerar posterior lucro.

Sim, estamos perdendo um parque.

Vamos pensar, vão consumar este projeto e, naturalmente, as pessoas irão ao local: E a infraestrutura urbana, como vai ficar? Os gênios que elaboraram as “atrações” pensaram nisso? Ou se eximem dessa responsabilidade? Como as pessoas vão chegar ao local? Onde vão estacionar seus veículos? Vão implantar novas redes de saneamento? Par onde vai ir o esgoto sanitário do parque? E a infraestrutura do entorno será atualizada, ou vai ficar como está? Essa parte que não dá lucro, será para o cidadão pagar? Para a prefeitura realizar com os impostos pagos pela população? Em detrimento de outras áreas da cidade que precisam destes recursos? Estes são questionamentos que surgem e que não há respostas por parte dos empreendedores.

Estamos perdendo um parque, não somente um parque, mas parte da história urbana de Porto Alegre. Vivemos em uma cidade provinciana e com ideias provincianas, onde o meio ambiente não é levado em conta, pois o que importa é o lucro. Sim, estamos perdendo um parque. E vai ficar por isso mesmo. A cidade não chama a população para decidir o seu futuro. 

(*) Geógrafo do PAGUS – Laboratório da paisagem/UFRGS – rangel1956@yahoo.com.br

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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