Opinião
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6 de agosto de 2022
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15:59

Com o slogan ‘Palavra de Gaúcho’, PT busca recriar debate de 98 (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Edegar Pretto e Pedro Ruas, na convenção estadual do PT, que oficializou a chapa para o governo do Estado. Foto: Joka Moura/PT
Edegar Pretto e Pedro Ruas, na convenção estadual do PT, que oficializou a chapa para o governo do Estado. Foto: Joka Moura/PT

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

A convenção da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) que oficializou a candidatura do deputado estadual Edegar Pretto (PT) ao Palácio Piratini deu sinais sobre qual será a estratégia política e de comunicação da campanha. O slogan inicial escolhido – Palavra de Gaúcho – remete a vitoriosa campanha do ex-governador Olívio Dutra (PT), nas eleições de 1998, quando contrariando todos os prognósticos, o PT derrotou o então governador Antônio Britto (PMDB), que buscava à reeleição e era apontado como o grande favorito. 

Embora a conjuntura de 2022 seja distinta da de 1998, temos algumas semelhanças. O ex-governador Eduardo Leite (PSDB), assim como Britto, em 98, implementou no estado, durante os cerca de três anos e meio que ficou à frente do Piratini, uma agenda liberal-fiscalista. O foco dessa agenda é a chamada reforma do Estado, sobretudo as privatizações. Guardadas as devidas proporções é um projeto similar ao implementado por Antônio Britto, em 1998. Naquela oportunidade, com Britto, o Rio Grande do Sul (RS) foi o laboratório das privatizações e atração de multinacionais através da concessão de benefícios fiscais. 

Nas eleições de 1998, Antonio Britto, através do slogan Rio Grande Vencedor, buscava pautar o debate a partir desta “agenda modernizante”. Porém, no embate de narrativas, prevaleceu na opinião pública a agenda de Olívio Dutra, que era sintetizada no slogan Governador de Verdade

A estratégia da Frente Popular passou por desconstruir Britto, através da cobrança de promessas não cumpridas na campanha de 1994 como, por exemplo, a privatização da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Como consequência, Britto passou praticamente toda a campanha de 98 se explicando sobre o descumprimento daquela promessa, sendo colocado na defensiva. 

A estratégia política e comunicacional da campanha petista passava também por explorar aspectos da cultura gaúcha como a expressão “fio do bigode”, que consiste em cumprir a palavra empenhada. Esse nosso traço cultural se conectou com a imagem de Olívio Dutra, que acabou vencendo aquela eleição, a mais acirrada desde a redemocratização do país no RS.

Nas eleições de outubro ao Palácio Piratini, o slogan Governador de Verdade de 1998 foi reformulado para Palavra de Gaúcho, num sinal que a campanha de Edegar Pretto irá cobrar de Eduardo Leite não apenas sua candidatura a um novo mandato, após ter se posicionado contra à reeleição, mas também a promessa descumprida de não privatizar a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), realizada na campanha de 2018. Com isso, o PT tentará construir a narrativa que Leite “não cumpre a palavra”. 

Dentro da estratégia traçada também estão presentes o ex-presidente Lula (PT), e os ex-governadores Olívio Dutra (PT) e Tarso Genro (PT), nomes históricos do partido.

Através de Lula, Edegar Pretto buscará nacionalizar a campanha estadual, estabelecendo também um contraponto a candidatura do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que está posto no tabuleiro como o representante do bolsonarismo. 

Olívio, por sua vez, como candidato a senador, além de trazer de volta a lembrança da histórica campanha de 1998, mobiliza as bases petistas, atraindo votos para Edegar, que disputará sua primeira eleição para governador. Ao lado de Olívio, Tarso também funcionará como cabo eleitoral importante. 

Outro nome a ser mencionado é o do vereador Pedro Ruas (PSOL), candidato a vice de Edegar Pretto. Ruas é um trabalhista histórico. Era vinculado ao ex-governador Leonel Brizola (PDT), e também teve uma importante participação na vitória de Olívio sobre Britto, em 1998, quando o apoio do PDT no segundo turno – e a formação da Frente Popular-Trabalhista – foi decisivo. Naquela eleição, Pedro Ruas, ainda filiado ao PDT, concorreu ao Senado na chapa que foi encabeçada pela então senadora Emília Fernandes (PDT), que posteriormente se filiou ao PT.

Através da valorização da palavra de gaúcho, e tendo Lula, Olívio e Tarso como cabos eleitorais, Edegar Pretto tentará conquistar o terço do eleitorado que historicamente vota com o campo progressista para chegar ao segundo turno. 

De 1990 a 2018, tivemos sete disputas de segundo turno no RS. Em 1990, Alceu Collares (PDT) derrotou Nelson Marchezan Júnior (PDS). Em 1994, Antônio Britto (PMDB) venceu Olívio Dutra (PT). No pleito seguinte (1998), Olívio superou Britto.

Nas eleições de 2002, Germano Rigotto (PMDB) venceu Tarso Genro (PT). Em 2006, Yeda Crusius (PSDB) venceu Olívio Dutra (PT). Em 2010, não tivemos segundo turno, pois Tarso venceu em primeiro turno. No pleito de 2014, José Ivo Sartori (MDB) venceu Tarso. E na disputa de 2018, Eduardo Leite superou Sartori.

Dessas sete disputas de segundo turno, seis foram entre o campo de esquerda/centro-esquerda contra a direita/centro-direita. Esse padrão só foi alterado em 2018, quando, pela primeira vez, desde 1990, o campo progressista não chegou ao segundo turno.

Dos sete segundos turnos que tivemos no RS desde a redemocratização, o PT esteve presente em cinco disputas. Assim, caso consiga atrair os cerca de 30% dos eleitores que historicamente votam à esquerda, o padrão de disputas que vigorou de 1990 a 2014 tende a ser restabelecido.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. Mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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