Opinião
|
21 de junho de 2022
|
19:57

Qual será a agenda da eleição no RS? (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Governo estadual tem tido o menor gasto com pessoal dos últimos anos. Foto: Luiza Castro/Sul2
Governo estadual tem tido o menor gasto com pessoal dos últimos anos. Foto: Luiza Castro/Sul2

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

O ex-governador Eduardo Leite (PSDB) oficializou, na semana passada, sua pré-candidatura ao Palácio Piratini. Após ter se declarado contrário à reeleição, Leite tenta amenizar a quebra da promessa feita na campanha de 2018. Seu argumento é que só irá concorrer a um novo mandato porque deixou o governo em abril.

Além do descumprimento da promessa sobre a reeleição, Eduardo Leite também será cobrado pela promessa de ter privatizado a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), apesar do compromisso assumido de não vender a estatal. Leite também é alvo de críticas por ter passado a receber a pensão de ex-governador. Na defensiva, o ex-governador acabou abrindo mão da remuneração.

Os ataques que Eduardo Leite passou a sofrer desde que assumiu sua candidatura indicam uma disputa em torno de qual será a agenda da eleição no estado. Leite deverá utilizar a narrativa de que está pagando os servidores em dia; defender as reformas fiscalistas como a administrativa e previdência; a criação da a lei de responsabilidade fiscal estadual; e as privatizações da CEEE, CRM, Sulgás e Corsan como justificativas de que o projeto em curso no Rio Grande do Sul (RS) “não deve ser interrompido”.

Apesar de Eduardo Leite ter uma narrativa para apresentar, seus adversários devem propor uma outra agenda. Principalmente os pré-candidatos de esquerda – Beto Albuquerque (PSB), Edegar Pretto (PT), Pedro Ruas (PSOL) e Vieira de Cunha (PDT) – tendem a apostar no discurso das promessas não cumpridas por Leite. A estratégia é tentar “colar” no ex-governador o rótulo da “mentira” como forma de mudar a pauta da eleição e construir outra agenda de discussão.

Guardadas as devidas proporções, é uma tática similar à adotada por Olívio Dutra (PT) na campanha de 1998, quando o então governador e candidato à reeleição, Antonio Britto (PMDB), acabou derrotado. Em 98, Britto, assim como Leite, adotava uma agenda fiscalista com bastante visibilidade no RS. Tinha privatizado a CRT e parte da CEEE, e atraído multinacionais como a General Motors (GM) e Ford em troca de isenção de impostos.

Porém, naquela disputa, Olívio, através do slogan governador de verdade, e de uma narrativa que valorizava a cultura gaúcha, desmontou a estratégia de campanha de Britto.

Olívio “colou” em Britto a marca do “governo da mentira”, através da cobrança da promessa descumprida de não vender a CRT e CEEE, realizada nas eleições de 1994, vencida por Britto.

A desconstrução da agenda do governo Antonio Britto, em 1998, foi possível porque a percepção que a opinião pública gaúcha tinha da agenda de reforma do Estado era diferente da propaganda oficial.

Além disso, Olívio, naquela eleição, conseguiu deslocar o debate eleitoral sobre a suposta “modernização do Estado” para o descumprimento da promessa feita por Britto de não privatizar a CRT e CEEE, estabelecendo assim a discussão da “verdade x mentira”. Aliás, não era por acaso que o slogan de Olívio naquela eleição era governador de verdade. Britto, por sua vez, tinha o slogan Rio Grande vencedor, que dialogava justamente com a agenda de “modernização” construída pela publicidade governista.

No pleito de outubro, é possível que tenhamos um debate similar em termos de agenda. Eduardo Leite deve propor a continuidade de sua gestão com a narrativa de que está em curso um projeto reformista.

Os adversários de Leite, por outro lado, tentarão direcionar o debate para o campo do descumprimento da promessa sobre não disputar à reeleição – e também a privatização da Corsan – estratégia similar à adotada por Olívio contra Britto em 98.

Quem conseguir pautar a agenda da eleição dará um passo importante na disputa pelo governo do RS, que historicamente tem sido acirrada e marcada por surpresas.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. Mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora