Opinião
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8 de maio de 2022
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09:40

O bem concebido discurso de lançamento da pré-campanha Lula-Alckmin (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Lula discursa durante o lançamento da pré-candidatura | Foto: Divulgação
Lula discursa durante o lançamento da pré-candidatura | Foto: Divulgação

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

No lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Lula (PT) ao Palácio do Planalto, ocorrido nesse sábado (7), em São Paulo (SP), foi possível observar um discurso estrategicamente bem concebido. Lula emitiu sinais que sua narrativa foi, ao mesmo tempo, espontânea e estrategicamente estruturada, focando no tema que será o carro-chefe do debate eleitoral: a economia.

Este discurso bem concebido é importante, pois ocorre após declarações de Lula que, apesar de agradar o eleitorado do campo progressista, deram munição para a base social bolsonarista de extrema-direita explorar a pauta dos costumes, que tanto mobiliza os setores mais conservadores da sociedade brasileira.

Entre os pontos principais do discurso de Lula podemos destacar o foco no combate à fome, inflação e a criação de empregos. Outra pauta importante trazida pelo ex-presidente foi o resgate da soberania nacional.

Ao falar em soberania, Lula dialoga com a bandeira do nacionalismo, dando sinais do modelo de Estado e da agenda econômica que terá como norte.

Ao classificar a privatização da Eletrobras, Chesf, Furnas e Eletronorte como um “crime de lesa-pátria”, Lula indica que, num eventual governo, o Estado voltará a ter um papel de indutor do desenvolvimento, principalmente nos setores estratégicos.

Outro indício nessa direção foi a declaração de que o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, seguirão como bancos públicos, atuando no fomento do desenvolvimento e garantindo crédito barato para quem deseja gerar empregos.

Lula também não deixou de lembrar o legado de seus dois governos como, por exemplo, os programas sociais Bolsa Família, Luz para Todos, Prouni, FIES, além da saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU. Ao fazer referência a essas bandeiras, procura ativar no eleitorado a lembrança positiva de seu legado e compará-lo com o governo Bolsonaro.

O posicionamento da narrativa de Lula também foi bem estruturado. Frases como “queremos unir os democratas de todas as origens e matizes para enfrentar a ameaça totalitária” agenda o debate da democracia x autoritarismo. Tendo o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB-SP) como vice, Lula reforça seu objetivo de construir uma frente ampla contra o bolsonarismo.

Outra pauta importante abordada por Lula foi o alto preço da gasolina, que mexe diretamente no dia-a-dia de milhões de brasileiros. Declarações como “[…] pagamos uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem os seus salários em real” tendem a ser bem recebidos pela opinião pública.

Ao mesmo tempo em que acena ao centro, Lula também não deixou de fazer acenou aos setores importantes da esquerda como as mulheres, negros e a comunidade LGBTQIA+.

Outro ponto a ser destacado é que Geraldo Alckmin teve também um papel importante na cerimônia de lançamento da pré-candidatura de Lula. Alckmin funcionou como um fiador da tese da frente ampla contra o bolsonarismo.

Por ter sido um adversário do PT até pouco tempo, com Alckmin de vice, Lula consegue dar consistência à narrativa da frente ampla. Em seu discurso, o ex-governador fez uma frase que, ao mesmo tempo em que reconhece as diferenças com Lula, avaliza a unidade contra o bolsonarismo: “[…] Disputas fazem parte do processo democrático, mas, acima das disputas, algo mais urgente e relevante se impõe: a defesa da própria democracia”.

Assim, Alckmin, que discursou antes de Lula, acabou antecipando o debate da democracia x autoritarismo dentro da ideia da frente ampla ao dizer que “[…] As próximas eleições guardam uma peculiaridade: será um grande teste para a nossa democracia. Sem Lula, não haverá alternância de poder e, sem alternância de poder, não haverá garantias para nossa democracia”.

O slogan de lançamento da pré-campanha – “Vamos juntos pelo Brasil” – sinalizou a ideia de unidade pelo país. Ao se apresentar como o candidato da união e reconstrução do país, Lula tenta construir uma narrativa de esperança.

Outro acerto foi a estética dos materiais publicitários. Além da cor vermelha do PT, esteve presente, o verde e o amarelo, além da bandeira do Brasil, que nos últimos anos foi incorporada pelos grupos de extrema-direita, e o resgate do histórico discurso “Lula Lá”, que agrega o componente emocional.

Entretanto, a aliança Lula-Alckmin ainda segue com desafios. Apesar do discurso e da estética caminhar na direção correta, a coligação que apoiará a chapa ainda segue restrita a PT, PSB, PCdoB, PSOL, PV, Rede e SD, sem ter conseguido atrair formalmente nenhum dos partidos do chamado centro. Este será um desafio importante para os próximos meses e também para o segundo turno.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. Mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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