Opinião
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17 de fevereiro de 2022
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08:55

Estiagem, planejamento e responsabilidades (por SENGE-RS)

Seca no RS. Foto: Vanderleia Nicolini Chittó/Arquivo Pessoal
Seca no RS. Foto: Vanderleia Nicolini Chittó/Arquivo Pessoal

SENGE-RS (*)

O tema é recorrente. Vivemos no Rio Grande do Sul um novo e, como sempre, perverso período de grave escassez de chuvas, que afeta em maior ou menor intensidade toda a sociedade. Como das vezes anteriores, o problema vem à tona ilustrado em amplas coberturas da imprensa, discursos oficiais, ideias, críticas e sugestões, que surgem de todos os lados. Enquanto isso, o cenário se repete: crise na agricultura, na produção de leite, grãos, carne, hortifrutigranjeiros, no saneamento, que provocam prejuízos gigantescos nos indicadores econômicos e sociais.

Como acontece em diversas abordagens de temas estruturais, somos salvos por uma aparente normalização e pela memória seletiva que afeta gestores e lideranças, até que novo ciclo se inicie, novos e velhos problemas se apresentem.

Do ponto de vista da ciência e mais precisamente da Engenharia como disciplina multifacetada, as chamadas Mudanças Climáticas já não são mera especulação. Negá-las, é uma forma grotesca de justificar a incompetência. Em todo o mundo, cientistas, pesquisadores, gestores e políticos se debruçam sobre o problema, estabelecem parâmetros comparativos e sugerem soluções. Quanto mais tempo for desperdiçado para as respostas, maior será o preço a ser pago pela irresponsabilidade e pela falta de planejamento efetivo.

Partimos de uma realidade taxativa: a água é um recurso limitado. Desde os primórdios, o planeta possui a mesma quantidade de moléculas de água. É com esse mesmo manancial, inicialmente farto, que abastecemos a população mundial que cresceu exponencialmente em poucas décadas. Por outro lado, estima-se que 70% do consumo/uso da água esteja relacionado com a atividade agropecuária. Também é seguro afirmar que o desequilíbrio ambiental e o aumento da incidência de grandes catástrofes meteorológicas, já afetam gravemente a disponibilidade de água para todos os segmentos.

O Rio Grande do Sul vem sofrendo com estiagens cíclicas que se agudizaram nas últimas décadas. Não é mais possível contarmos apenas com a sorte ou com a boa vontade de São Pedro, nosso padroeiro. Precisamos de soluções técnicas advindas de planejamento, competência e responsabilidade. Algumas iniciativas avançaram em administrações passadas, mas que por diversos motivos foram engavetadas. Trabalho perdido, que de alguma forma, ressurge na informação de que o Palácio Piratini prepara um plano emergencial, que precisa antes de tudo, respeitar a legislação ambiental e o imbróglio jurídico

O Sindicato dos Engenheiros conclama a sociedade a acompanhar de perto a evolução deste processo. Isso porque, como ocorreu na criação da chamada Lei Kiss, que se preocupou em regulamentar a prevenção de incêndio em nosso estado e apenas após a tragédia de Santa Maria em 2013, mais uma vez, uma crise hídrica que assola o Rio Grande do Sul irá receber um projeto para ser implantado “no calor do espetáculo”, ao invés de receber a devida atenção, análises, estudos e contribuições. 

Possuímos uma estrutura exemplar na gestão dos recursos hídricos através dos 25 Comitês de Bacias Hidrográficas. Em 23 deles, ao lado de outras entidades, o SENGE-RS possui representantes. Porém, assim como no plano de privatização do saneamento do Governo do Estado (entenda-se, venda da CORSAN), os comitês também deixarão de ser ouvidos.  Soma-se a isso a necessidade imperiosa de instrumentalização e recuperação operacional da EMATER-RS, para levar tecnologia e conhecimento a todos os municípios do RS, através de equipes multidisciplinares, orçamento compatível e de respeito por parte dos gestores públicos.

Devemos encarar de frente as demandas latentes por preservação e reservação de recursos hídricos, na forma de novas, grandes, médias e pequenas barragens, micro açudes e acima de tudo com a responsabilidade técnica e política que a urgência exige.

(*) Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (SENGE-RS)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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