Roberto Liebgott (*)
Águas que vem em excesso e levam tudo o que se tem.
Não sobra nada, apenas a dor, a lama e o desalento.
Perde-se tudo lá naqueles beiradões,
por vezes até às vidas,
em geral, de pobres,
pretos e desemprepagos.
Tamanha dor daquelas pessoas,
dor de uma vida inteira arrasada.
Não havia onde morar,
construir um lar, a não ser lá, na beira do rio.
De um rio açoriado, contaminado, despido de beleza, sem vida pela depredação causada por gananciosos.
Mas restou a eles, apenas as suas margens.
Parecia ser o único lugar em que se podia permanecer e nele tentar sobreviver.
E lá não há poder público, não há saneamento básico,
não há deveres dos eleitos para governar.
Conta-se tão somente com a solidariedade alheia, quase sempre de outros pobres.
Quando políticos aparecem é porque os fatos repercutiram nos telejornais.
Caso contrário, ignorariam a multidão de desabrigados e permaneceriam inertes.
Como inerte está o perverso,
o tirano que preside o país.
Esse navega em barcos de luxo, esnoba fartura,
desdenha dos que padecem.
Ele pesca com amigos em lugares elitizados e de lá, empunhando uma vara de pesca, ri e debocha dos que choram.
Parece gostar de ver a morte dos outros, sente-se o prazer em seus olhos, nota-se o profundo desprezo pelos que perderam seus lares sob as águas sujas dos rios e barragens que se romperam.
Tirano, deboche agora, porque a sua enchente vai chegar, dela você não escapará.
(*) Coordenador do Conselho Indigenista Missionário – Cimi Sul.
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