Opinião
|
26 de outubro de 2021
|
16:29

Discurso falso, ódio verdadeiro (por Manuela d’Ávila)

Episódio de racismo na Câmara de Porto Alegre na última quinta-feira (21). Foto: Lucas Leffa
Episódio de racismo na Câmara de Porto Alegre na última quinta-feira (21). Foto: Lucas Leffa

Manuela d’Ávila

“Não é ignorância, é cálculo”, afirma o cientista político italiano  Giuliano da Empoli sobre o funcionamento das redes de desinformação e ódio da extrema direita. Lembrei disso frente às agressões sofridas pelas vereadoras porto-alegrenses Bruna Rodrigues, Daiana Santos (Ambas do PCdoB) e Laura Sitto (PT). Muitas vezes ouvi que o ódio nas redes não teria impactos na vida real. Sabemos que isso não é verdade. Não impacta apenas quem não é vítima dele.

Dos violentos manifestantes na Câmara da Capital, dois são militantes do movimento cristão conservador do PTB. Não é casual que esse seja o partido de Roberto Jefferson, que numa recente manifestação sugeriu que invadissem plenários e atirassem em parlamentares de oposição. Aliás, essa sua manifestação de desprezo pela democracia e estimulo à violência política foi o que me fez procurar o Ministério Público para denunciá-lo e que resulta em nova investigação do Supremo.

Aliados aos  algoritmos e às técnicas discursivas usadas pela extrema direita para criar o caos, o ódio e a truculência extrapolam as redes sociais e se materializam na nossa frente, na vida real. Esse caos – direcionado a grupos de minorias –  é atravessadas por elementos carnavalescos e hedonísticos, atrelados ao que esses pequenos grupos acreditam. Tudo muito entrelaçado pelo viés da transgressividade e pela ruptura do que consideram tabus, como o do “politicamente correto”, que incomoda tantos extremistas. É um movimento que se  aproveita da raiva de uma forma muito mais tecnológica, muito mais eficaz e muito mais dirigida a um público alvo do que se fazia no passado.

Às vezes, as histórias parecem repetitivas, mas é que elas de fato se repetem, são reaquecidas, ressuscitadas para reanimar o ódio contra alguns de nós. Por isso, a importância de identificar e punir quem produz e distribui os conteúdos falsos e de ódio. É assim que cortaremos o mal pela raiz.

(*) Jornalista, mestra em Políticas Publicas, escritora e Presidente  do Instituto E Se Fosse Você?

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora