Opinião
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9 de outubro de 2021
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18:21

A vez dos alimentos orgânicos (por Angela Escosteguy)

Produção orgânica brasileira registrou um aumento de  30 a  50% em 2020. (Foto: FLD/Divulgação)
Produção orgânica brasileira registrou um aumento de 30 a 50% em 2020. (Foto: FLD/Divulgação)

Angela Escosteguy (*)

A pandemia foi um sonoro tapa na cara da humanidade. Nos mostrou o quanto precisamos de um sistema imunológico forte e de um ambiente saudável, apesar dos nossos avanços tecnológicos.

A preocupação em fortalecer as defesas naturais com dieta saudável provocou um aumento no consumo dos alimentos orgânicos em diversos países. Estudos na Europa relatam que mesmo com a crise, em 2020 houve aumento  de cerca de 40% no consumo. Alguns chegam a firmar que o aumento só não foi maior porque não havia oferta.

 Além disso,  o Relatório da FAO sobre a Covid-19, publicado no ano passado  foi muito claro ao afirmar que dentre as causas da pandemia estão a destruição dos ecossistemas e os confinamentos dos animais e que, se isto não for modificado, novos surtos virão. Neste contexto, os sistemas orgânicos e de base agroecológica  assumem uma importância crescente. Há mais de 70 anos eles vêm se desenvolvendo com base nos princípios que incluem cuidados com os ecossistemas, com as pessoas e com o bem-estar dos animais. Estudos, como o do Rodale Institute dos EUA comprovam que estes sistemas são mais resilientes, sequestram mais carbono, precisam de menos energia, proporcionam melhor bem-estar aos animais e produzem alimentos de elevado teor nutricional e com menos possibilidades de terem resíduos tóxicos.

Estas informações vêm propiciando o aumento do consumo dos orgânicos pois além de livres de agrotóxicos, antibióticos, hormônios e outros contaminantes no seu sistema de produção, eles também têm mostrado serem mais nutritivos que os convencionais, na maioria dos estudos comparativos, embora haja variação conforme o solo e período do ano.   Segundo a Universidade de Medicina Natural dos EUA,  alimentos orgânicos fornecem níveis significativamente maiores de vitamina C, ferro, magnésio e fósforo do que as variedades não orgânicas dos mesmos alimentos. Citam também  benefícios claros para a saúde do consumo de produtos lácteos orgânicos em relação à dermatite alérgica. Pesquisa do British Journal of Nutrition concluiu que leite e carne orgânicos são mais nutritivos que os convencionais pois  contém 50% mais ômega 3. Estes resultados também foram encontrados na  manteiga, iogurte, nata e queijos. O ômega 3 é um ácido graxo essencial fundamental para o crescimento, com importante função na prevenção e tratamento de doenças cardíacas, hipertensão, artrite, câncer, inflamações e desordens autoimunes.  Numerosos estudos científicos, incluindo os do FIBL- Instituto de Pesquisas em Orgânicos, da Suíça,   e da Universidade da Califórnia, comprovaram que carnes de animais alimentados em pastagens, como os orgânicos,  têm mais ômega 3, além de maiores níveis de vitaminas A,  E , CLA e menos gordura saturada e trans que carnes não orgânicas.

 Conforme dados publicados este ano pelo FIBL com base em dados coletados em 2019, o mercado de orgânicos movimentou 106 bilhões de euros, está presente em 187 países e conta com mais de 3 milhões de produtores devidamente cadastrados. Aqui no Brasil, segundo uma pesquisa da realizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), através da  Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) a produção orgânica brasileira registrou um saldo bastante positivo em 2020 com um aumento de  30 a  50% conforme o produto, além de triplicar a produção devido à grande demanda. A gama de produtos é variada,  não somente os tradicionais hortifrutigranjeiros, mas também ovos, mel, carne bovina e de frango, leite e derivados. Além da preocupação com alimentação saudável também observa-se aumento da preocupação com o ambiente e com os animais, o que vem impulsionando  o desenvolvimento da pecuária orgânica, cujos princípios básicos são  bem-estar dos animais e preservação dos ecossistemas nas criações de animais em pastagens. 

A concepção de qualidade dos alimentos está evoluindo. Durante muito tempo eram considerados apenas os parâmetros do próprio alimento, tais como sanidade, sabor e valor nutricional. Mas agora estão sendo valorizados e demandados  também aspectos que  avaliam não somente o alimento em si mas também o sistema produtivo utilizado. Consumidores além de buscar alimentos de mais qualidade, se sentem felizes em apoiar os produtores rurais que são cuidadosos com os animais e com o ambiente, e passam a buscar nos rótulos dos alimentos estas informações. É o chamado consumo ético.

(*) Médica-veterinária, diretora do Instituto do Bem-Estar (IBEM)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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