Opinião
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2 de julho de 2021
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09:20

Marchar com Paulo Freire (por Selvino Heck)

Ato dia 29 de junho contra o governo Bolsonaro reuniu milhares de pessoas em Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21
Ato dia 29 de junho contra o governo Bolsonaro reuniu milhares de pessoas em Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21

Selvino Heck (*)

Paulo Freire proclamou nos anos 1990, quase no final da vida: “Eu morreria feliz se visse o Brasil, e seu tempo histórico, cheio de Marchas. Marchas do que não têm escola. Marcha dos reprovados. Marcha dos que querem amar e não podem. Marcha dos que se recusam a uma obediência servil. Marcha dos que se rebelam. Marchas dos que querem ser e estão proibidos de ser. Estas Marchas históricas revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo.

29 de maio, 19 de junho, 3 de julho, 10 de julho, que vai ser o Dia da Solidariedade em Porto Alegre, e nova mobilização de rua nacional em 24 de julho, as Marchas estão acontecendo em todo Brasil. Paulo Freire, no ano do seu centenário, deve estar muito feliz, assistindo de algum lugar o povo brasileiro marchando por VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO, e por justiça, igualdade, soberania,  democracia.

Marchar nas ruas, como está acontecendo no Brasil e em diferentes países e continentes, com todos os cuidados sanitários, mas marchar, aos milhares, aos milhões. O povo na rua constrói o poder popular. 

Marchar nas escolas e Universidades, sensibilizar estudantes, professores e toda comunidade escolar. Trazer Paulo Freire para dentro e fora das salas de aula, dialogar com as periferias, dialogar com todos os setores da sociedade.

Marchar com os movimentos sociais, o movimento sindical, as Pastorais sociais das Igrejas,  o movimento indígena, os jovens, as mulheres, o movimento quilombola, as organizações de matriz africana, o povo LGBTQIA+, sem terras, sem teto, população em situação de rua, agricultoras-es familiares, camponesas-es, o movimento estudantil, recicladoras-es, as ONGs e toda a sociedade civil que reconhece Paulo Freire como educador popular e cidadão do mundo.

Marchar no campo e na cidade, em todas as esquinas, em todos os becos, em todas as ruelas, em todas as pequenas comunidades do interior, nas periferias, nas vilas, nos bairros, nas favelas, bater à porta dos edifícios e condomínios de classe média. Juntar o povo, ocupar todos os espaços, organizar lutas e ocupações, gritar bem alto que a libertação vem de baixo, vem da unidade e da solidariedade, tornar Paulo Freire vive e presente. 

Marchar em toda América Latina e Caribe, marchar como as colombianas e os colombianos, como as chilenas e os chilenos, como as palestinas e os palestinos, como as peruanas e os peruanos, como as brasileiras e os brasileiros fizeram em 29 de maio, 19 de junho, 3 de julho e marcharão em número muito maior em 24 de julho e no resto de 2021, contra governos genocidas, necrófilos, negacionistas e neofascistas. Marchar a favor de políticas públicas, da participação popular, da vida, da fraternidade, da paz, da justiça e da igualdade. 

Marchar, reiventando Paulo Freire e a educação popular, fortalecendo a organização popular com conscientização, com formação na ação na base popular, freireanamente. Marchar como se a utopia, aquela que sempre se distancia mais um pouco quanto mais chegamos perto, como profetizou Eduardo Galeano, mas em cuja direção caminhamos sempre, apresente-se e brilhe firme e forte no horizonte, com esperança e fé.

Marchar juntando, na mesma luta e no mesmo sonho, a Pedagogia do Oprimido, a Pedagogia da Indignação e a Pedagogia da Esperança, junto com o povo, especialmente os mais pobres entre os pobres, junto com as lutadoras e os lutadores das causas populares.

Proclamar setembro, mês do aniversário e do centenário de Paulo Freire, oficialmente o mês das Marchas e de MARCHAR: Marchas políticas e simbólicas em todo Brasil, América Latina e Caribe. Marchas de todos os tipos, todas as formas, todas as cores, em tudo que é lugar e espaços. Marchas militantes, marchas presenciais e marchas virtuais, juntando ética e política, mística e política, exigindo direitos para trabalhadoras e trabalhadores, políticas públicas com participação popular, soberania e democracia.

Transformar setembro no setembro do ESPERANÇAR. Marchar, marchar, marchar. Não esperar acontecer, mas fazer acontecer a revolução de baixo para cima, anunciar o sonho, a utopia. Andarilhar como semeadoras e semeadores da libertação, ninguém soltando a mão de ninguém.

Setembro o mês das Marchas e do Marchar, como sonhava Paulo Freire,  da denúncia e do anúncio, todas as horas, todos os dias, manhã, tarde, noite, madrugada, fazendo amanhecer a manhã de sol e luz, de primavera e futuro, de sonho e utopia.

PAULO FREIRE VIVE! PAULO FREIRE PRESENTE!

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990) . Da Coordenação de CEAAL Brasil (Conselho Latino-americano e Caribenho de Educação  Popular pelo CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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