Opinião
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4 de julho de 2021
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12:06

A conquista das ruas (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Ato contra o governo de Jair Bolsonaro, dia 3 de julho, em Porto Alegre. (Foto: Luiza Castro/Sul21)
Ato contra o governo de Jair Bolsonaro, dia 3 de julho, em Porto Alegre. (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

As manifestações realizadas pela oposição, movimentos sociais e centrais sindicais em favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro e mais vacinas, ocorridas nesse sábado (3), teve expressiva grande adesão em todo país. Entre as capitais, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Porto Alegre (RS) concentraram o maior número de pessoas.  As sucessivas manifestações contra Bolsonaro – o protesto de sábado foi o terceiro nos últimos 35 dias (29 de maio, 19 de junho e 3 de julho) – apontam que as ruas viraram a favor do campo progressista.  

Até abril, a resistência ao governo se restringia as redes sociais. Desde o final de maio, a insatisfação contra Bolsonaro transbordou das redes para as ruas, que viraram em favor da oposição. Mesmo que a extrema-direita bolsonarista ainda tenha base social, sua capacidade de mobilização é cada vez mais reduzida. Não é por acaso que o último ato em favor do governo foi realizado apenas em Brasília. Aquele ato, composto majoritariamente por ruralistas, ficou concentrado apenas em frente ao Congresso. Posteriormente, o bolsonarismo optou por motociatas no Rio de Janeiro e Chapecó (SC) para tentar dar volume a atos cada vez mais esvaziados. 

Além da virada nas ruas conseguida pelo campo progressista, os atos da oposição agregam setores sociais cada vez mais amplos. Parte da classe média dos grandes centros urbanos, que se descolou da esquerda a partir de 2015 e paulatinamente foi cooptada pela extrema-direita, emitem claros sinais de divórcio com o bolsonarismo. Não é por acaso que a Avenida Paulista, antes ocupada pela direita, é hoje um importante reduto de mobilização das esquerdas. 

Ao que tudo indica está em curso nas ruas a construção da frente ampla progressista. A estruturação dessa frente tem o ex-presidente Lula (PT) como grande protagonista. Lula, além de unir as esquerdas, reestabeleceu o diálogo com setores de centro que foram abandonando o bolsonarismo. A grande marca simbólica da articulação dessa frente foi o encontro entre Lula e o ex-presidente FHC, ocorrido em 21 de maio.  Mesmo que haja muitos desafios até as eleições de 2022, o que exige que as forças progressistas mantenham a capacidade de resistência nas ruas que vem sendo demostrada desde o final de maio, Bolsonaro está cada vez mais isolado.

Esse isolamento pode ser constatado pelo afastamento de parte do centro, pelas manifestações cada vez maiores tendo o “Fora Bolsonaro” e mais vacinas como bandeiras aglutinadoras e os números negativos de avaliação do governo trazidos pelos diferentes institutos de pesquisas. A desaprovação a Bolsonaro supera os 50%, enquanto a aprovação se restringe a um núcleo de extrema-direita barulhento e radicalizado, mas que hoje é inferior a 1/3 da opinião pública. 

A opinião pública virou a favor do campo progressista e isso é muito significativo. Através da construção de uma unidade mínima tendo o antibolsonarismo – que é o sentimento majoritário na sociedade – como pauta unificadora, as forças democráticas vão construindo as condições estruturais para vencer em 2022.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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