Bruna Rodrigues (*)
No dia 29 de maio o grito entalado na garganta de milhares de brasileiros e brasileiras espalhados por todo o Brasil tomou as ruas, marcando uma nova etapa da luta dos movimentos populares que resistem aos ataques de Bolsonaro.
Se ocupamos as ruas em plena pandemia é certo que a razão é o fato de o governo ter se tornado tão ou mais letal que o vírus, como propagado em cartazes presentes nas manifestações de todo país. Entretanto, às vésperas de mais um dia nacional de mobilizações, cabe refletir: onde e como estão os principais atingidos pela crise e pela pandemia?
Recente estudo da FGV revelou que em meio à pandemia o crescimento da desigualdade social chegou a um patamar recorde em nossa história e levou a redução da renda média no país para menos de mil reais mensais por pessoa. Na contramão, o custo de vida cresce, simbolizada nesta semana no aumento no custo do gás de cozinha que em nossa cidade ultrapassou os R$ 100,00 em alguns bairros.
As manifestações do dia 19 de junho chegam junto com a triste marca de 500 mil mortos no Brasil vítimas da covid-19. Essas são vítimas não só do vírus, mas de um presidente genocida que negou a gravidade da pandemia e investiu recursos públicos em tratamentos ineficazes, demonstrando não apenas seu caráter negacionista com a ciência, mas levantando graves suspeitas de corrupção no enfrentamento à pandemia. O presidente também é responsável pelo lento avanço da vacinação. O resultado disso tudo é que o Brasil desponta como um dos países do mundo em que a covid mais mata.
Esse povo trabalhador tem cor e vive, geralmente, na periferia das nossas cidades. É o mesmo povo que enfrenta outras formas de genocídio do Estado e do sistema que vivemos. É o povo que sofre as perdas no massacre de Jacarezinho, no Rio, assim como de Beto e Jane – minha companheira de luta na Grande Cruzeiro – em POA.
No país, mais de 13 milhões de pessoas vivem em comunidades sem saneamento básico, postos de saúde e mobilidade urbana adequados. Essa realidade torna-se ainda mais impactante quando pensamos que milhões de pessoas vivem sem as mínimas condições de higiene, saúde e alimentação.
Lembremos que a primeira vítima da covid-19 no Brasil foi uma mulher negra, empregada doméstica de meia idade. O elevado número de mortes de pessoas negras e, especialmente mulheres negras, é uma evidente consequência do processo histórico de exclusão social e racismo que o país tem.
Somos nós, negros e negras, os mais atingidos pela pandemia. Nós morremos mais, somos mais afetados pelo desemprego, são nossos filhos e filhas que não têm tido acesso à educação. Somos nós que mais voltamos a conviver com a fome e insegurança alimentar.
A covid-19 não só escancarou a desigualdade racial na área da saúde, mas em todos os setores como segurança, educação e violência. Mesmo em meio a uma pandemia, homens negros continuam sendo mortos pela polícia em condições desproporcionais, as mulheres negras são as maiores vitimas da violência de gênero (que ficou ainda mais silenciosa nesse contexto) e foi um desafio para mães e estudantes, principalmente negros, prosseguirem com o ensino online.
O presidente genocida não salvou as vidas que poderia, tampouco os empregos e a economia. É por isso que no dia 19 de junho estarei nas ruas por vacina, comida na mesa e emprego para todo nosso povo, mas em especial para levar o grito das mulheres e homens negros que precisa ser ouvido e é por quem nossa luta é mais necessária!
(*) Bruna Rodrigues é vereadora líder da bancada do PCdoB na Câmara Municipal e ex-presidenta da União das Associações de Moradores de Porto Alegre (UAMPA)
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