Opinião
|
27 de janeiro de 2021
|
19:52

A vacina e a imoralidade da ‘Primeira Classe’ (por Miguel Rossetto)

Por
Luís Gomes
luisgomes@sul21.com.br
A vacina e a imoralidade da ‘Primeira Classe’ (por Miguel Rossetto)
A vacina e a imoralidade da ‘Primeira Classe’ (por Miguel Rossetto)
Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

Miguel Rossetto (*)

A coluna da jornalista Rosane Oliveira – ZH de hoje (27.01) – traz a notícia de que a Associação de Juízes Federais do RS encaminhou ofício aos seus associados garantindo a compra das vacinas necessárias para os magistrados e até oito familiares. Os juízes terão a vacina custeada pela associação e os familiares pagarão R$ 800 reais. A Associação de Juízes informa que vai adquirir as doses da Índia, através da Associação Brasileira de Clínicas Privadas.

Entre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, art. 3º da Constituição Brasileira, está o de construir uma sociedade livre, justa e solidaria, o de reduzir as desigualdades sociais e o de promover o bem de todos. O Judiciário é reconhecido como um Poder da União, para assegurar os fundamentos da República; o cumprimento dos princípios, objetivos, direitos e deveres escritos na Constituição Brasileira.

O País vive hoje uma situação dramática a partir dos desmandos, da incúria, da imprevidência do governo Bolsonaro , frente a pandemia provocada pelo COVID 19. No Brasil, mais de 219 mil mortos, milhões de contaminados e uma situação colapsada em várias regiões, como Manaus e agora Rondônia. As vítimas são as pessoas mais pobres, mais vulneráveis, os profissionais de saúde pela exposição permanente, os idosos pela sua fragilidade, as pessoas com comorbidade.

Em todos os países onde todas as vidas importam e isso faz parte da sua cultura, é assegurada a igualdade de tratamento e realizam programas de vacinação a partir de critérios que respeitem prioridades diste do risco de vida dos diferentes grupos da população. Não há privilégios, o dinheiro não compra vacinas e os ricos não são vacinados primeiro. Assim é, e assim deve ser.

Furar a fila, a partir do dinheiro, da pressão política ou do suborno é algo igualmente odioso e criminoso, pois se apropria de um bem limitado- a vacina, não disponível para todos. A forma de garantir igualdade é a organização por parte dos governos de critérios públicos, transparentes e rigorosamente aplicáveis em todas as cidades e regiões a partir de um plano de vacinação operado pelo SUS. Neste momento, esta é a luta principal da sociedade brasileira, assegurar vacinas em número adequado para que todos possam ser protegidos e por incrível que possa parecer lutar também contra os privilégios imorais dos ricos e poderosos de sempre.

Na Inglaterra, nem a Rainha furou a fila, na Argentina, assistimos o presidente Fernandez recebendo a vacina num posto de saúde pública. Por aqui, a Associação dos Juízes Federais do RS, que representa aqueles que são pagos e que tem garantias funcionais especiais asseguradas pelo povo para garantir as bases da República, da lei para todos, da sociedade justa e solidaria, se preparam para furar a fila das vacinas!

Repetimos o Titanic, em que o desastre atingiu todos, mas os botes salva-vidas eram só para a primeira classe. Esta indecência chocou o mundo, mas pelo visto não o suficiente para que juízes, empresários e endinheirados de uma forma geral se sintam com direitos para garantir o bote salva-vidas para si.

Inacreditável. Inaceitável.

(*) Miguel Rossetto foi vice-governador do Rio Grande do Sul, ministro do Desenvolvimento Agrário e do Trabalho.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora