Opinião
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30 de dezembro de 2020
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20:56

Pelo direito ao aborto e pelo direito a ser mãe (por Rossana Silva)

Por
Sul 21
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Pelo direito ao aborto e pelo direito a ser mãe (por Rossana Silva)
Pelo direito ao aborto e pelo direito a ser mãe (por Rossana Silva)
Com 38 votos a favor, 29 contra e uma abstenção, Senado da Argentina converteu em lei a interrupção voluntária da gravidez. (Divulgação – Campanha do Aborto Legal)

Rossana Silva (*) 

É realidade, e é bem perto! Por ser aqui do lado, a marea verde também nos inunda de inspiração e esperança, porque mostra que a autonomia sobre os nossos corpos e vidas é, além de urgente, possível. A legalização da interrupção da gravidez pelo Senado argentino, nesta madrugada, é uma vitória histórica do feminismo – e, como escreveu uma de minhas irmãs portenhas, uma dívida da democracia.

Ontem mesmo o título de um grande jornal anunciava que a votação decidiria “se as argentinas poderão abortar apenas pela própria vontade”. Li o “apenas” como lembrança de que o direito ao próprio corpo ainda permanece como uma garantia negada às mulheres. Mas, apesar disso, temos desafiado o controle sobre a nossa existência e abortado ao longo da história da humanidade.

 Em grandes metrópoles ou em áreas rurais, as mulheres exercemos nosso desejo de ser ou não ser mães, colocando nossa vida em risco ao ter clínicas e métodos clandestinos ou inseguros como única opção. E mesmo sobrevivendo a esse processo, outras maneiras de interromper ou perturbar a própria existência sempre estarão à espreita, vide a culpa cristã da maternidade compulsória.

Por isso, precisamos normalizar que a gravidez será desejada ou não será. Silvia Federici nos lembra que, como feministas, nossa luta deve ser tanto pelo direito ao aborto como pelo direito de ter filhos.

Também nisso a Argentina nos inspira, pois desde 2013, “toda pessoa maior de idade, independentemente de sua orientação civil, que tenha plano de saúde ou seja usuária do sistema público de saúde, pode acessar de forma gratuita técnicas e procedimentos realizados com assistência médica para conseguir a gravidez”. É a Lei 26.862.

É claro que a reprodução assistida não é o único indicativo de que o direito a ser mãe está assegurado, pelas mulheres que assim desejem. A defesa da maternidade deve contemplar a luta contra a feminização da pobreza, por creches e serviços sociais que permitam o exercício da maternidade com dignidade, entre tantas outras necessidades que nós, mulheres sem filhos, precisamos aprender com as mães. Essa também deve ser a nossa bandeira, e tenho certeza de que todas elas cabem em um lenço verde.

Mas hoje é dia de celebrar. Olhar para tão perto e nos inspirar. Gracias, hermanas argentinas, por lutar e nos iluminar de verde o caminho. O nosso será mais longo, mas não vamos parar.

(*) Jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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