Opinião
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14 de dezembro de 2020
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18:47

100 dias de resistência da comunidade escolar pela escola Rio Grande do Sul

Por
Sul 21
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Ocupação da Escola Estado do Rio Grande do Sul completou 100 dias. Foto: Luiza Castro/Sul21

Alice Gaier, Júlia Lanz, Rossana Silva, Jonas Comoretto, Marta Ferreira, Isoleti Pereira e Bianca Garbelin (*)

Chegamos ao dia 100 da ocupação da Escola Estadual de Ensino Fundamental Estado do Rio Grande do Sul. Alguns acharam que seria fogo de palha, que logo nos venceriam no cansaço, mas não importa o quanto façam, a chama da luta pela educação segue viva na comunidade escolar.

Muitos perguntam por que estamos ocupando, mas você já se perguntou o que leva um governante a fechar escolas? Um governante filho de professores, inclusive. Quando pensamos por esse lado, não há dúvidas do porquê seguimos defendendo a Escola Rio Grande do Sul. Enquanto o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) e o secretário estadual de Educação Faisal Karam (PSDB-RS) insistirem no fechamento, ainda haverá quem lute pela escola aberta e em pleno funcionamento. Ainda sobre a pergunta do porquê ocupamos, a resposta vem fácil: a comunidade escolar quer a Rio Grande do Sul, as crianças querem sua escola e não são poucas as justificativas pela sua permanência. São mães, pais, alunas, ex-alunas, vizinhas, comércio local e organizações sociais pela educação que seguem resistindo.

Ao longo desses 100 dias fizemos inúmeras tentativas de resolver a situação através do diálogo, tentamos entender as motivações do governador e seu secretário de fechar uma escola, mas sempre nos deram com a cara na porta. A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa via sua presidenta, deputada Sofia Cavedon, promover várias Audiências Públicas para tratar da situação da escola. Em algumas delas o secretário Faisal compareceu, falou e foi embora sem ouvir ninguém, em outras nos respondeu com sua ausência. As mães e pais também tentaram diversas vezes serem recebidas pelo secretário que manteve sua postura antidemocrática ao não recebê-las, mesmo sendo vistas no prédio da SEDUC ao chegarem. O governo foge porque não tem argumentos reais para defender o fechamento.

Muitos foram os convites para uma visita à escola, pedidos de diálogo mas a visita que recebemos foi da CEEE a mando da Secretaria de Educação para cortar a luz da escola e do DMAE para cortar a água, inclusive mais de uma vez, porém, em todas tiveram que enfrentar a resistência da comunidade que ocupa a escola. Até o próprio coordenador Alaor Chagas, próximo dos 90 dias de ocupação, veio pessoalmente tentar quebrar o cadeado da escola (novamente) desacreditando que a comunidade ainda estaria resistindo. Sim, a motivação da ocupação foi a truculência que o governo do Estado usou ao quebrar o cadeado da escola, no dia 3 de setembro de 2020, para entrar e roubar os documentos das crianças dado que a comunidade estaria contra o fechamento. Ao invés de buscar dialogar e expor motivos, abusaram do poder e usaram da violência para decretar o fechamento de uma escola que completou seus 60 anos servindo à comunidade.

Enquanto eles somente sabem dizer não dá, já realizamos inúmeros mutirões para cumprir o papel que o Estado se omite pois não aceitamos o discurso de que o prédio é insalubre e não há nada que se possa fazer. A escola está pintada, de cara nova, mas também com iluminação, reparos e adequações que foram feitas no esforço da comunidade escolar de provar que a Escola Rio Grande do Sul supre suas demandas. Conseguimos doações de materiais, inclusive uma caixa d’água para substituir a antiga que foi isolada por possuir vazamentos e estar obsoleta, reparo que há tempos havia sido solicitado à SEDUC pela direção da escola. Mas quem conhece de verdade as escolas estaduais em Porto Alegre, sabe o quanto essa escola está bem estruturada perante o abandono do Estado e principalmente tem uma comunidade que veste a camisa e a defende com todos os esforços. Alegar insalubridade aqui é não ter de fato colocado os pés na escola e trabalhar a favor de números e não de pessoas. Seguimos insistindo e aguardando a visita do governo mesmo sabendo que estão de costas para a comunidade.

Levamos essa disputa à instância judicial. Atualmente está na Vara da Infância e da Juventude onde a Defensoria Pública representa as mães e pais da Rio Grande do Sul e a comunidade escolar pedindo, em tutela de urgência, que os documentos sejam devolvidos até o fim do processo contra o fechamento.

Com alegria e esperança chegamos aos 100 dias dessa luta em defesa da educação pública e do direito à escola para as crianças, jovens e adultos de Porto Alegre com a certeza de que quantos mais dias forem necessários estaremos aqui. Enquanto o governo for antidemocrático e autoritário eles podem ter certeza que terão uma comunidade escolar preparada para enfrentá-los. Resiste #OcupaRS2020.

(*) Alice Gaier é educadora popular e vice-presidenta da UEE RS. Júlia Lanz é jornalista. Ambas pertencem à comunidade escolar. Rossana Silva, Marta Ferreira, Isoleti Pereira, Bianca Garbelin e Jonas Comoretto são mães e pai de alunos.


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