Marcelo Sgarbossa (*)
A mobilização contra o aumento da passagem de ônibus traz em seu bojo a questão do direito que a população tem a circular pela cidade. O direito de ir e vir e desfrutar do espaço público como bem coletivo.
Em Porto Alegre, que em breve terá a tarifa mais cara do Brasil, quem mais sofre é justamente quem mais precisa utilizar o transporte público, pois mora longe e em condições precárias, na grande maioria das vezes. Atualmente, nas médias e grandes cidades, quem depende do transporte público gasta muito tempo indo e vindo do trabalho e de escolas e faculdades. Pesquisas mostram que, em vários casos, trabalhadores e estudantes chegam a perder até quatro horas por dia com deslocamentos. Tempo este que poderia ser utilizado de forma mais produtiva para a pessoa e, consequentemente, para a sociedade.
O desgaste físico e psicológico traz consequências para a saúde pública. Isto comprova que a mobilidade urbana acaba sendo um fator de segregação social, revelando as desigualdades e dificultando o acesso das pessoas que vivem na periferia aos bens materiais e culturais da cidade.
De forma agressiva, os interesses econômicos mantêm uma relação promíscua com poder público, como é o caso de Porto Alegre. O que acaba fazendo com que a própria cidade se torne uma mercadoria, um produto a ser negociado, fazendo com que as pessoas se relacionem com a cidade a partir desta ótica. Isto fica claro quando a gestão Marchezan Júnior (PSDB) apresenta um projeto para entregar parque e praças para a iniciativa privada administrar.
A moradia é outro fator central de disputa dentro desta lógica de mercado. É onde o capital financeiro investe pesado na especulação imobiliária, para controlar as áreas urbanas e impor a lógica de lucro acima de tudo, investindo politicamente nos espaços de disputa para alterar os Planos Diretores. O financiamento de campanhas eleitorais faz parte desta estratégia que faz da cidade uma mercadoria.
A tônica dos discursos desses setores que representam os interesses econômicos, sempre com o aval da grande mídia, é de que o “progresso” é inevitável para o desenvolvimento da cidade. Ao mesmo tempo, marginalizam e atacam movimentos populares que combatem essa lógica e fazem a necessária crítica a este tipo de “progresso” atrelado aos interesses do mercado.
Numa cidade-mercadoria, moradores perdem a capacidade de se relacionar de forma solidária, abandonam vínculos afetivos, o sentido de sociabilidade, e, como consequência, de responsabilidade social. O triste é ver a nossa Porto Alegre caminhando a passos largos nesta direção, onde querem transformar a prefeitura numa empresa que negocia os espaços e os interesses coletivos como se fosse uma mercadoria qualquer.
(*) Vereador (PT) de Porto Alegre.
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