Opinião
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13 de dezembro de 2018
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17:10

A quem deve-se pedir desculpas (por Franklin Cunha)

Por
Sul 21
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A quem deve-se pedir desculpas (por Franklin Cunha)
A quem deve-se pedir desculpas (por Franklin Cunha)
“Os cruéis e desumanos torturadores e assassinos, são ainda hoje lembrados e até homenageados”. (Reprodução)

Franklin Cunha (*)

O filósofo, psiquiatra, ensaísta, e ativista político marxista Franz Fanon, nascido na Martinica e atuado como médico durante a revolução argelina, escreveu, entre outros, um livro “ Os Condenados da Terra” cujo prefácio foi assinado por Sartre.

Trechos do mesmo: “Vocês , tão liberais, tão humanos, que atingem o preciosismo em seu amor pela cultura, parecem esquecer que possuem colônias e que lá são cometidos assassinatos em vosso nome. Temos que enfrentar um espetáculo inesperado: o estriptise de nosso humanismo. Ei-lo aqui desnudado e nada formoso. Trata-se de apenas uma ideologia mentirosa e uma estranha justificativa da vossa pilhagem generalizada. O europeu não tem podido fazer-se humano senão fabricando escravos e monstros. Nossas vítimas nos conhecem por suas feridas e por seus grilhões. Isso torna irrefutável seu testemunho”.

Os intelectuais franceses – disse Sartre – têm obrigação moral de pedir desculpas. Mas a quem deverão pedir desculpas?

Pequena digressão.

Como sabemos, empossado por autoridades nazistas, Heidegger foi durante dez meses, Reitor da Universidade de Friburgo. Em 1945, terminada a guerra todos esperavam uma palavra sua de arrependimento e de autocrítica. Nunca a pronunciou, mas ante intelectuais e jornalistas que o questionavam fez seguinte pergunta: “ Digam-me , a quem eu devo pedir desculpas?”.

Sartre respondeu por Heidegger e disse que a desculpa e o perdão deviam ter sido dirigidas às milhões de vítimas do nazismo.

Na situação brasileira, onde se decidiu não acusar, julgar ou punir ninguém pelas ações homicidas organizadas, executadas e financiadas pelo estado durante a ditadura, nem sequer foram cogitadas por parte desse mesmo estado, palavras e ações de desculpa ou de arrependimento pelas vítimas assassinadas ou desaparecidas.

E pior, os cruéis e desumanos torturadores e assassinos, são ainda hoje lembrados e até homenageados.

(*) Médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

§§§

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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