Opinião
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1 de novembro de 2018
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10:15

Notas sobre as eleições para o Executivo de 2018 (por Bruno Erbe Constante)

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Sul 21
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Notas sobre as eleições para o Executivo de 2018 (por Bruno Erbe Constante)
Notas sobre as eleições para o Executivo de 2018 (por Bruno Erbe Constante)
Pronunciamento de Bolsonaro logo após a vitória. Foto: Agência Brasil

Bruno Erbe Constante (*)

As eleições do ano de 2018 foram um divisor de águas no país, expressando uma grande luta de classes. Não porque o continuar do golpe, que depôs fraudulentamente Dilma Rousseff e que prendeu o maior líder popular do país, Luís Inácio Lula da Silva, saiu vitorioso nas urnas. Todavia, pelos rumos que tomou.

Estes rumos foram traçados pela burguesia brasileira com a finalidade de eleger um candidato conservador, com nariz de tucano, capaz de agradar aqueles que financiaram o golpe e que tivesse o mínimo de apoio popular, com sua basilar, sobretudo, no antipetismo, para implementar o neoliberalismo iniciado por Michel Temer. Não obstante, a perspectiva silogista que pressupõe causa e efeito fracassou, pois negligenciou-se a agência do presente. Neste sentido, aqueles que apoiaram o golpe e apoiavam, em um primeiro momento, o candidato tucano, decidiram, devido ao processo e ao contexto que os caminhos levaram, apoiar o candidato piada do CQC e que foi, por muito tempo, subestimado pelas duas principais forças políticas antagônicas do país. Apostaram certo e sua eleição é sintomática.

Porém, o que a eleição de Jair Messias Bolsonaro representa?

Ela representa, gravemente, uma mudança profunda na correlação de forças da política brasileira. A nova hegemonia na política brasileira está nas mãos de uma extrema direita autoritária, com fortes características fascistas e extremamente religiosa. Bolsonaro representa uma ruptura mais forte, do pacto federativo de 1988, que garantia a governabilidade, do que a que acontecera um pouco antes de 2016. Por dois motivos simples: pelo que ele representa e pelo que ele se propõe a fazer no campo pragmático.

Bolsonaro representa o fascismo e com seus discursos autoritários e de ódio, que têm como foco a maioria da população (mulheres e negras/os) e, também, a população LGBT, irá legitimar o fascismo à brasileira. Bolsonaro representa o que há de mais perverso na ideologia neoliberal. Bolsonaro é porta voz do extremismo religioso. Bolsonaro é, ainda, a representação máxima da militarização da política. Tudo isso é simbolizado em eventos ocorridos no domingo (28/10), dia da confirmação de sua eleição: primeiro, rasgando a constituição, passa por cima do Estado Laico e, em seu discurso de abertura, põe Magno Malta para orar pelo povo brasileiro; segundo, quando a resistência é agredida, pura e simplesmente, por querer existir à sua maneira; terceiro, quando militares saem às ruas, em caminhões, e são ovacionados pela população “de bem”.

Portanto, tomemos muito cuidado com a nova classe dirigente, pois ela é perversa e já deu sinais de que, se preciso for, à custa de muitas vidas, fará tudo que for necessário para a implementação do ultraliberalismo autoritário.

(*) Graduando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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