Opinião
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1 de novembro de 2018
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18:29

Disputas ideológicas na escola? (por Aline Kerber)

Por
Sul 21
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Disputas ideológicas na escola? (por Aline Kerber)
Disputas ideológicas na escola? (por Aline Kerber)
Colégio Rosário foi um dos locais em que ocorreu manifestação parte dos alunos | Foto: Reprodução/ Twitter

Aline Kerber (*)

O Colégio Rosário foi palco nesta semana de manifestações de alunos e pais em razão do resultado das eleições presidenciais. Queiramos ou não, o candidato eleito é o Jair Bolsonaro. Todavia, faz parte do jogo democrático a livre manifestação, inclusive contra um candidato eleito. O que percebo, nesse contexto, é um não entendimento em relação à manifestação na escola por adolescentes, como se fosse o resultado de uma “doutrinação ideológica”, com apoio a algum campo ideológico ou partido. Já no dia da eleição, os alunos do Rosário estamparam pela escola cartazes em defesa dos direitos humanos e isso não tem relação com esquerda ou direita, tem a ver com conhecimento dos direitos inerentes a todos os seres humanos.

Em 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, conferindo um caráter transnacional a eles, atualmente, 193 países são membros, como o Brasil. Direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à livre manifestação de expressão, o direito à educação, à moradia.

Aliás, existe mais uma prova inequívoca de que esse tema nada tem a ver com este ou aquele posicionamento ideológico, a priori, já que previstos na Constituição.

O que estamos vendo nos relatos de alguns pais de alunos de escolas é uma clara intenção de interditar qualquer discussão porque acredita que a escola está ideologizando o aprendizado. Trata-se de uma flagrante intolerância às diferenças e de incitação à violência que necessita ser rechaçada por apreço à democracia.

Batemos o recorde de homicídios na nossa história em 2017 – quase 64 mil vidas perdidas, sendo que 72% dos homicídios são causados por arma de fogo. A flexibilização do porte de arma de fogo e a redução da maioridade penal em curso vão atingir ainda mais os negros, jovens e pobres, que serão mortos cada vez mais cedo como mostram as evidências científicas, aumentando a criminalidade. Se a escola não for capaz de refletir com os alunos sobre essas pautas, quem será? Necessitamos cada vez mais desconstruir esse fenômeno de produção das violências, que está em todos nós, sem distinção. O resto, com todo respeito, é delírio ou pesadelo tal como uma criança imitando o símbolo de arma com a sua mãozinha.

(*) Especialista em Segurança Pública, Instituto Fidedigna/Vila Flores

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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