Opinião
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27 de setembro de 2018
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17:39

As eleições e a crise partidária (por Raul Pont)

Por
Sul 21
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As eleições e a crise partidária (por Raul Pont)
As eleições e a crise partidária (por Raul Pont)
“Sem partidos e programas nítidos, as eleições não cumprem seu papel pedagógico”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

 Raul Pont (*)

A orquestração que os grandes meios de comunicação (não só a Globo e suas afiliadas, mas também as outras redes) e os partidos da ordem capitalista (PSDB, MDB, DEM, PP e o balcão de negócios do centrão) realizaram contra a política e, em especial, a demonização do PT, cobra seu preço no processo eleitoral em curso.

Na ditadura cívico-militar de 64, quando a classe dominante aceitou o fechamento dos partidos políticos e a imposição da Arena e do MDB, e enterrou a débil experiência de construção da representação democrática (1945-65), não prejudicou e tentou liquidar apenas os partidos de esquerda e reformistas. Foram duas décadas perdidas na luta pela democracia.

Agora, se pretendiam acabar com o PT, dando um golpe midiático-parlamentar com a conivência do Judiciário acabando com o governo eleito e legítimo de Dilma Rousseff e prendendo Lula sem crime e sem provas, o feitiço está virando contra o feiticeiro. Ao criminalizarem a política e o PT, criminalizaram e desacreditaram todos os partidos que são os canais de criação e expressão de vontades coletivas de milhões, sem os quais não há democracia.

Os maiores partidos do capitalismo brasileiro (PSDB e MDB) vêem seus candidatos afundarem com índices baixíssimos de adesão. Somados não alcançam 10% de preferência eleitoral. O MDB, responsável maior pelo governo Temer, vê seu candidato, o banqueiro Meirelles oscilar entre 1% e 2% nas pesquisas de opinião. “O maior partido do país”, como seus dirigentes apresentavam-se, com um candidato milionário, que “põe do próprio bolso” dezenas de milhões de reais na campanha, enorme tempo de TV e rádio e maior estrutura partidária nacional ostenta pífios 1% ou 2% de preferência eleitoral.

Aliou-se ao PSDB para dar o golpe e com os tucanos montaram o programa “Ponte para o Futuro” que governa o país há dois anos: recessão econômica, austeridade fiscal, desemprego recorde, volta da miséria e da fome para milhões de brasileiros. Entrega criminosa de recursos naturais, desmonte das empresas públicas, congelamento dos gastos sociais por vinte anos, liquidação dos direitos trabalhistas. E o pior, criaram as condições objetivas para o crescimento da violência, do ódio e do preconceito.

Mais de 90% da população rejeita seus candidatos, seu programa de governo e nem com a cumplicidade da mídia conseguem algum grau de apoio e legitimidade ao seu discurso. Este soa vazio diante da vida real das famílias, dos trabalhadores, do povo brasileiro.

Quando não há partidos, quando não há vontades coletivas de milhões que defendam um projeto programático, que se identifiquem com um conjunto de propostas concretas e a visualização de esperanças e sonhos no horizonte, a população desorientada e perdida, tende a buscar saídas simplistas, primárias, que aparecem através de aventureiros ou de saídas messiânicas que só agravam a crise e a violência.

Para se salvarem nos Estados esses partidos escondem-se, diluem-se em alianças contraditórias e se apresentam sem nenhuma responsabilidade do que fizeram e fazem no governo federal, através de coligações espúrias e o voto no indivíduo, sem partido, sem história.

No Rio Grande do Sul, candidatos majoritários e proporcionais simplesmente negam seus partidos nacionais, escondem e não falam de seus candidatos presidenciais, não tem coragem de assumir seus programas e defender seus partidos. Um festival de hipocrisia. Candidatos que, como deputados, votaram para acabar com os direitos trabalhistas apresentam-se como defensores do povo.

É nesse lusco-fusco de votos nominais e candidatos que não tem programa, não tem partido, não se assumem como estruturas nacionais que deveriam ser, que aparecem os medos, as angustias e desesperos, aí aparecem também os monstros.

Sem partidos e programas nítidos, com a mistificação das promessas, as eleições não cumprem seu papel pedagógico para que o cidadão-eleitor possa comparar, entender como funciona a política e o sistema representativo. A vergonhosa mini-reforma eleitoral de 2017 só encurtou o tempo de campanha, adiou para 2020 o fim das coligações proporcionais, burocratizou e judicializou de maneira infernal a vida partidária e permitiu o drible da proibição do financiamento empresarial por doações milionárias de pessoas físicas, donos ou grandes acionistas das pessoas jurídicas empresariais.

Aos que lutam por uma verdadeira democracia não resta outro caminho do que enfrentar e superar essa difícil conjuntura. Isso significa denunciar e esclarecer o estelionato eleitoral dos que escondem seus candidatos presidenciais, seus partidos e os votos que praticam no Congresso, criando as condições para o aparecimento de aventureiros. Significa continuar defendendo a democracia, a tolerância e o diálogo como a melhor forma de vida social. Significa, principalmente, construir verdadeiros partidos políticos programáticos, laicos, com democracia interna, com igualdade de gênero e diversidade cultural e etno-racial em sua vida interior. É a melhor escola para reproduzir essa experiência para o conjunto da sociedade.

Neste momento crucial, a tarefa maior dos que acreditam na democracia e numa sociedade igualitária é a busca da ação unitária, da construção da unidade na defesa desses princípios fundantes de uma alternativa duradoura. Sem perder identidade as forças políticas desse campo democrático-popular-socialista tem o dever histórico de buscar a unidade desde o primeiro turno. É o melhor antídoto para enfrentar os fantasmas e os monstros que nos ameaçam na atualidade.

(*) Professor e ex-prefeito de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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