Não raro, encontro pessoas defendendo as trevas com argumentos do tipo:
“Tem que respeitar o pai, entender a criação dele, é difícil pra ele aceitar.”
“Ah, a mãe até aceita, mas não precisa se beijarem na frente dela.”
“Nenhum problema em ser gay, mas precisa querer casar e adotar uma criança?”
“Quer ser gay, tudo bem, mas cada um na sua, não precisa mostrar pra todo mundo.”
Frases toscas, obtusas e arbitrárias como as citadas acima servem para perpetuar o preconceito e camuflam o ódio – e ódio suavizado é mais traiçoeiro do que o escancarado.
Pessoas demais de diferentes gerações viveram amarguradas, atraiçoadas, ofendidas, violentadas, desrespeitadas, escondidas, separadas, segregadas, espancadas, assassinadas, cuspidas ou simplesmente esquecidas porque ousaram se insurgir e descumprir o protocolo estabelecido, ainda antes do nascimento, por uma sociedade machista e heterossexual.
Gente demais já sofreu e segue sofrendo.
Pessoas demais ainda vivem nas trevas porque o entorno deixa claro que elas não poderiam ser como são – e não digam que tudo está melhor. Há ganhos, há conquistas, mas ainda insuficientes.
Não há mais tempo para se tolerar este tipo de preconceito.
Não há mais tempo para se tolerar piadas supostamente inocentes.
Não há mais tempo para se legitimar homofobia, lesbofobia, transfobia, misoginia, misandria e ódios similares.
Não há mais tempo para ódio de gênero, de identidade sexual e de orientação sexual.
O respeito é urgente.
A dignidade é urgente.
Não há mais tempo para acatar preconceito atávico e ancestral, como se fosse um código genético impresso em estruturas escondidas num universo microscópico.
A vida, em sua plenitude, precisa ser prioridade.
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Vitor Necchi é jornalista.
