Opinião
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30 de maio de 2014
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10:48

A Frente Nacional dá as cartas: Le Pen se aproveita da impopularidade de Hollande (por Pedro Henrique Tavares)

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A Frente Nacional dá as cartas: Le Pen se aproveita da impopularidade de Hollande (por Pedro Henrique Tavares)
A Frente Nacional dá as cartas: Le Pen se aproveita da impopularidade de Hollande (por Pedro Henrique Tavares)

Na França, a extrema-direita, representada pela Frente Nacional, foi declarada a grande vencedora das eleições para o Parlamento Europeu neste domingo, com 25% dos votos. A mesma extrema-direita de Jean Marie Le Pen, aquele que declarou na semana passada que o vírus Ébola poderia resolver o problema da explosão demográfica francesa, ao se referir ao grande contingente de imigrantes de origem africana no país. Marine Le Pen, sua filha, é a principal líder da FN e vocifera contra o casamento gay e outras conquistas recentes que representaram um avanço dos franceses em questões que envolvem direitos humanos .

A Frente Nacional já vinha mostrando sua força desde março, durante as eleições municipais. Na ocasião, o partido liderado por Marine Le Pen mostrou seu poder ao registrar 4,65% dos votos. Apesar de baixo, o número representou um avanço significativo para a extrema-direita, que em 2008 havia registrado um índice de apenas 0,9%. Além disso, FN ocupou o primeiro lugar em diversas localidades do sul do país, como Perpignan, Avignon, Béziers e Fréjus. No norte, o partido teve destaque em Forbach. Na cidade de Hénin-Beaumont, também ao norte e tradicional reduto da esquerda, o secretário-geral da FN, Steeve Briois, foi eleito no primeiro turno.

Mesmo em Paris, onde a o Partido Socialista (PS) conseguiu eleger Anne Hidalgo, os sinais de avanço da intolerância perpetrada pelos Le Pen são claros. Em frente a Esplanade des Invalides, local que abriga o Museu da Guerra e o túmulo de Napoleão Bonaparte, as uma série de pinturas marcam a calçada até a ponte Alexandre III: Família = Mulher + Homem, descreviam os autores da intervenção. A mensagem, presente em outras localidades da capital francesa, fez parte de um protesto contra o casamento entre homossexuais, aprovado pelo Parlamento Francês no ano passado. No mesmo período, passeatas contrárias a lei tomaram conta do país.

A Frente Nacional consegue se aproveitar de uma população que pouco aprova o presidente do Partido Socialista, François Hollande, do PS. Em uma certa noite do mês de novembro de 2013, em frente a Sorbonne, uma das principais faculdades da Universidade de Paris, um grupo de estudantes colava cartazes. O protesto era contra Hollande. Segundo eles, o presidente não estava dando atenção para as demandas estudantis. Mais do que uma dificuldade de aplicar reformas, o mandatário francês sofre com algo que um amigo francês comentou ainda no ano passado: François Mitterrand, o último presidente socialista da França, deixara o poder em 1995. Desde então, o país vinha sendo administrado por partidos de direita.

Sucessor de Nicolas Sarkozy, da União por um Movimento Popular (UMP), de centro –direita, ele conta com uma aprovação popular de apenas 17%. Neste caso, a FN acaba sendo um catalisador da raiva do franceses. E a família Le Pen se aproveita disso: com um desemprego em 10,4% e um PIB que só avançou 0,3% no ano passado, Hollande não conseguiu puxar votos nas eleições municipais e europeias.

Por outro lado, os números da abstenção no pleito do último domingo mostram que ainda é preciso ter cautela quanto ao avanço da extrema-direita. Segundo o Le Figaro, cerca de 73% dos jovens franceses com idades entre 18 e 35 anos não votaram. Fica a dúvida se essa parcela da população vai optar pela Frente Nacional nas eleições de 2017. A certeza é que Hollande precisa agir.

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*Estudante de jornalismo da PUCRS, estudou no Instituto de Comunicação de Paris (IICP) no segundo semestre de 2013.

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