Opinião
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2 de janeiro de 2014
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07:17

Crítica ao nacional-Pessimismo (por Alberto Kopittke)

Por
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Crítica ao nacional-Pessimismo (por Alberto Kopittke)
Crítica ao nacional-Pessimismo (por Alberto Kopittke)

Em seu pronunciamento de final de ano, a Presidenta Dilma destacou que o País tem que se libertar do “pessimismo de setores que espalham desconfiança injustificada e promovem uma guerra psicológica contra o País”.

O pessimismo não é uma posição meramente conjuntural ou casual, ele é um discurso permanente a mais de um século, pelo menos, no imaginário brasileiro e com consequências graves e profundas na política, na economia e na própria estrutura social brasileira, pois tem a capacidade de ser reproduzido cotidianamente pelas pessoas sem que elas sequer percebam que estão reproduzindo um determinado “discurso político”.

Embora não seja assumido publicamente por nenhuma corrente de pensamento ou grupo social, é um dos elementos discursivos mais poderosos da política brasileira, uma verdadeira ideologia que poderia ser chamada de nacional-pessimismo.

Longe de ser uma característica recente, ele sempre foi terreno fértil por onde surgiram todos os movimentos autoritários da história do País. Desde a própria instauração da República, do Estado Novo ou o Golpe de 64, a descrença no País sempre foi a base para o surgimento dos césares brasileiros.

O catastrofismo nacional está baseado numa crença implícita de que o povo brasileiro não tem qualidades próprias, de que são incapazes de fazer coisas certas, corrupto por natureza expressado na frase “jetinho brasileiro”, fazendo acreditar que o brasileiro jamais será capaz de alcançar o mesmo nível das grandes nações.

Bajulador das virtudes de países mais desenvolvidos, nos torna copiadores de segunda categoria, sem vontade própria, sem a capacidade de criar ou inovar. Saudoso das férias além mar, não nos permite mobilizar esforços para encontrar soluções para nossos próprios problemas. E sempre ao falar deles, os entoa como um mantra, repetido mil vezes, a demonstrar nossa inata incompetência, ao invés de propor soluções objetivas.

O nacional-pessimismo também se nutre do passado. Sendo o eco nostálgico das aristocracias, em relação a um pretenso passado grandioso, vê no presente apenas a recorrência de retrocessos. Entre os mais destacados elogios ao passado, está a famosa “perda de valores”, que enaltece aqueles tempos antigos de uma sociedade ordeira – incluindo aqui os tradicionais preconceitos de gênero, de etnia, de orientação sexual e religiosa, que sempre balizaram a sociedade brasileira – e governos virtuosos, típicos da propaganda dos regimes autoritários.

Como muito bem explicou Bobbio em seus estudos sobre a origem do fascismo, a democracia, ao igualar pobres e ricos, brancos e negros, doutores e analfabetos, sempre foi vista como o regime a ser destruído por parte das elites conservadoras.

Porém, como defender explicitamente uma ditadura já não é visto com bons olhos, a melhor forma é desconstruir os sujeitos do regime democrático: a classe política e, principalmente o conceito de Partidos Políticos.

O nacional-pessimismo cria uma espécie de cordão sanitário em torno dos políticos (tornada classe no imaginário popular), afastando a massa da sociedade desse tipo de “comportamento”, retirando do “político” qualquer virtude e o tornando a causa de todos os males.

Ao mesmo tempo que critica a falta de coragem para tomar decisões fortes por parte dos políticos, ataca qualquer tipo de proposta de reforma, taxando essas propostas como pretensas aspirações autoritárias dos governantes ou dos movimentos sociais. Assim, mantem ao mesmo tempo acesa as aspirações mudancistas do povo, enquanto deslegitima a capacidade da democracia em implementar as mudanças necessárias, reivindicando a necessidade de Regimes Fortes “sem políticos” para reformar o País.

O nacional-pessimismo em nada se parece com movimentos críticos sobre a realidade brasileira. Ao invés de defender um programa político para o País, dentro do regime democrático, ele encobre o passado que defendeu e sempre oculta as propostas que efetivamente defende. Ao invés de organizar setores sociais para a discussão politizada sobre o futuro do País, ele estimula um individualismo pérfido, baseado na idéia de “se todos fazem, eu também vou fazer”.

O respeito às armas sempre foi uma das características mais fortes do nacional-pessismo. Na incapacidade de verbalizar sua intolerância à democracia, colocam as forças armadas como tutores dos destinos do País, aqueles a quem recorrer para corrigir os rumos e varrer a corja, a única instituição confiável e não contaminada. Ao invés de destacar seus feitos na defesa da soberania, a mantém como ator político interno em estado de latência.

O nacional-pessimismo tem tido a capacidade de se manter vivo e perene no imaginário popular ao longo das décadas. Estimulando a descrença em si próprio, ele se tornou um complexo e profundo alterego da nação, um eu incosciente que influencia o comportamento e a imagem de si próprio do povo brasileiro.

A única forma de enfrentá-lo é enfrentar a tradicional máxima “fazer a revolução, antes que o povo a faça”, sempre fortalecendo a democracia e o otimismo do povo em construir uma sociedade mais justa.

Alberto Kopittke é vereador de Porto Alegre e advogado.

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