Opinião
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25 de janeiro de 2014
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08:00

Até que a morte ou a falta de desejo nos separe (por Cláudia Guglieri)

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Há algum tempo venho pensando sobre o que de fato contribui para a diminuição do desejo nos casamentos. Isto porque, qualquer um de nós, pode notar que de uns anos para cá houve um aumento considerável no número de separações e de pessoas em relações extraconjugais. No meu consultório são crescentes as queixas de distanciamento físico e afetivo e muitas mulheres tem me procurado por conta de um tipo de insatisfação que não sabem como lidar. Me refiro as mulheres porque ainda são estas que primeiro tomam uma atitude.

Entre as pessoas com quem converso, porque além de psicóloga, sou curiosa e uma constante pesquisadora da “alma humana”, a opinião é unânime: a culpa das separações é o distanciamento físico. “Tem uma porção de coisas, mas o que pesa mesmo é não se tocar mais, não querer ficar junto”, dizem.

Penso que as pessoas tem razão, na maioria das vezes o grande vilão dos casamentos é a falta de desejo. Este, que de fato, faz com que as pessoas se sintam desmotivadas, desencantadas e busquem outras pessoas.

Porém saiba que isto tudo não é tão pessoal como parece. O problema não está na companheira que engordou ou na barriguinha do seu “gato” que agora é de “urso”. Menos ainda nos rompantes de paixão que não acontecem mais. É claro que as pessoas mudam e isso interfere, mas não é o que mais distancia as pessoas. Ao contrário, casais saudáveis crescem com as mudanças.

O grande problema está no modelo de casamento que herdamos. Vem da avó, da mãe, e se não ficarmos atentas vai para os nossos filhos. Não conseguindo fugir de um pouco de generalização, digo que a nossa sociedade cria mulheres para dar conta de tudo que se diz respeito ao núcleo familiar. Mães muito capazes de gerenciar o seu núcleo e entender de tudo, muito melhor que ninguém. Isso é ótimo, se não fosse o papel de “incapazes” que os homens acabam tendo que assumir dentro de casa.

Eu ouso, e agora mais do que nunca observo, o quanto nós mulheres, e veja que me incluo, somos mandonas. É do jeito da mulher, como imaginou e/ou desejou e, se assim não for, não está bom ou certo. Como o homem pode ser capaz?

Isso acontece na educação dos filhos, passando pelas escolhas até das roupas de alguns membros da família e determinação de rotinas. Será que também está na hora do sexo? Quem determina as noitadas? De que forma? Quanta autonomia! E mesmo com tudo isso muitas mulheres se queixam que seus maridos não tem “pegada” e perderam o erotismo.

Mas as mulheres nem podem ser tidas por culpadas, porque da mesma forma que nós mulheres nos colocamos neste lugar os homens também se colocam e adoram a sua cômoda posição. Assim historicamente eles descansam das decisões.

Só que os tempos mudaram. Atualmente as mulheres também estão tendo que decidir muita coisa lá fora e andam sobrecarregadas, detestando todo este enrosco e projetando as suas frustrações nos companheiros. Por outro, lado os homens não aguentam mais serem tratados como “incompetentes” no que tem certeza que já estão competentes e menos ainda querem se sentir inibidos em suas opinião e escolhas. Se queixam entre eles, também se desencantam, mas nada fazem.

Sei que não estamos falando de algo muito simples de mexer. Muitas pessoas não querem mais esta realidade, mas sentem-se impotentes e apavorados e até preguiçosos em ter que mudar. É confortável ser “filhão” e ter mimos, mandar e ter as coisas do jeito que se quer. Mas a que preço?

Que sinuca! Bem, a minha sugestão é ir devagar. Pequenas mudanças nas atitudes de um muda o outro e o “nós”. Observe-se e não ao outro e busque algo diferente na sua ação. Aguente firme, no começo pode ser estranho, mas com o tempo é muito bom. Falem sobre isso, sem se atacar, com afeto e bom humor, porque este sempre ajuda.

.oOo.

Claudia Guglieri é psicóloga. Graduada pela PUC/RS com ênfase na psicossomática da sexualidade. Especialista em gestalt-terapia e adolescência, há alguns anos se dedica à área relacional.

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