Opinião
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17 de agosto de 2012
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08:04

O velho leão voltou a rugir

Por
Sul 21
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Por Marino Boeira

O velho leão desdentado hoje não mete mais medo nos poderosos da floresta.  Quem cuida de pôr ordem na casa é seu filho predileto, herdeiro das conquistas do pai . Mas, vez que outra, ele acorda do seu sono de velho senil e arreganha os poucos dentes que ainda tem para alguma presa que imagina seja fácil de atacar.  O velho leão é a Inglaterra e seu filho, obviamente os Estados Unidos.

Esta semana, ele começou a rugir contra a pequena república do Equador, certamente lembrando dos tempos em que mandava e desmandava no mundo inteiro. Época em que enviava suas canhoneiras para abrir os portos chineses para os traficantes de ópio; que transformava a África inteira , do Norte ao Sul, numa grande colônia em que muitos países, para deixar bem claro quem mandava, tinham os nomes dos seus colonizadores ingleses nos lugares mais importantes da sua geografia e fazia e desfazia o mapa do Oriente Médio ao seu bel prazer.

Mas tudo isso, herdado da revolução industrial que comandou nos séculos 18 e 19, acabou com a Segunda Guerra Mundial. O velho leão se aposentou e passou o poder para seu filho. No lugar do leão inglês, surgia a águia americana, com uma sede ainda maior de poder, capaz de infelicitar a vida de milhões de pessoas nos lugares mais distantes da terra. A busca da energia para mover suas máquinas, que lançou os ingleses pelo mundo, corrompendo, roubando , matando e pilhando, se transferiu para os americanos, com uma pequena diferença na bandeira desfraldada. Em vez da conquista em nome do progresso, agora a palavra é mais motivadora. Ela atende pelo nome de liberdade e serviu no passado para justificar as intervenções no México, Granada Cuba e Guatemala e mais recentemente no Vietnam , Iraque a Afeganistão.

Mas, quase que como um exercício para movimentar seus velhos membros alquebrados, o leão ás vezes se põe a rugir. Há alguns anos atrás sua vítima foi a Argentina por causa das Malvinas. É claro, que na ocasião, foi preciso pedir o apoio tecnológico do filho poderoso, que com seus radares e satélites, guiou os navios ingleses pelo Atlântico Sul. Pura ação de pirataria, na qual os ingleses sempre foram mestres, mas que envolvia ainda algum risco. Afinal, foram perdidos alguns homens, navios e aviões, para os argentinos.

Hoje, o risco é nenhum, mas o que a Inglaterra está se dispondo a fazer é quase tão desprezível quanto a invasão das Malvinas. Como o Equador, usando a sua condição de país independente e de acordo com normas internacionais de solidariedade aos perseguidos políticos, ofereceu asilo ao jornalista Julian Assange, criador das WikiLeaks, o governo da Inglaterra ameaçou prendê-lo  dentro da embaixada equatoriana em Londres e já afirmou que não lhe dará salvo-conduto para sair do país.

Até as piores ditaduras sul-americanas, como ocorreu no Brasil durante o regime militar e no Chile de Pinochet, foi respeitado o direito de asilo para os perseguidos políticos e estes governos, ainda que contra a vontade dos seus setores mais radicais, permitiram a saída das pessoas asiladas nas embaixadas.

Agora para agradar os americanos, o governo inglês se nega a cumprir esta norma humanitária e pretende enviar Assange para a Suécia, onde ele responde processo por estupro, altamente suspeito porque envolve uma relação sexual que começou de forma consentida na primeira vez, mas que num segundo momento, se transformou em violência sexual, porque o autor teria rompido intencionalmente o preservativo que usava, o que na Suécia é considerado violência sexual.

Acrescente-se a isso, que recai sobre a parceira na ocasião de Assange, Ana Ardin, a suspeita de que teria armado uma cilada contra ele. Ela é cubana, anti castrista, e trabalhava numa ONG financiada pela CIA. O que se teme é que a ida de Assange para a Suécia seja apenas o primeiro passo para o seu envio posterior aos Estados Unidos, onde ele é acusado de alta traição por divulgar documentos secretos do Governo sobre as guerras do Iraque e Afeganistão e, se condenado, seria passível até da pena de morte.

Marino Boeira é professor universitário.

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