Opinião
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6 de julho de 2012
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12:00

As cotas em uma perspectiva socialista

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Por Juliana de Souza¹ e Pedro Perfeito²

Na perspectiva socialista, as cotas em universidades e demais centros de poder se constituem como medidas importantes para transformação da correlação de forças da sociedade. A universidade, hoje, é um aparelho ideológico burguês que atua na conformação do conhecimento segundo os valores da classe dominante. Dessa maneira, o ingresso da classe trabalhadora na universidade pública pode (pois isso está em disputa) ser o primeiro passo para constituição da mesma como um instrumento de construção contra-hegemônica ao sistema social vigente.

Nesse sentido, a efetividade das cotas depende do cumprimento de dois requisitos: a democratização do acesso e a mudança da correlação de forças na universidade. O primeiro advém de uma ação do Estado, que ocorreu após um longo período de mobilização social, a partir da ascensão da classe trabalhadora a frações do Estado burguês com um governo de centro-esquerda. Já o segundo, depende do avanço organizativo do Movimento Estudantil, tendo em vista a transformação das estruturas universitárias, no que tange à burocracia, ao conteúdo e objetivo da produção do conhecimento.

As Ações Afirmativas na UFRGS completam, em 2012, seu quinto ano. Nesses cinco anos, temos visto uma mudança no perfil dos estudantes da universidade, aumentando a pluralidade a partir do ingresso de alunos oriundos da classe trabalhadora. Mais negros, indígenas, jovens e adultos trabalhadores acessam a universidade pública. No entanto, ao passo que as Ações Afirmativas têm mudado o perfil do estudante, o mesmo não ocorre com as estruturas da universidade. A UFRGS se mantém como uma Instituição de Ensino cujas estruturas conservadoras e excludentes são voltadas aos estudantes da elite da sociedade. Ainda assim, nesse ano, que rediscutiremos as cotas na UFRGS, vimos um avanço na política de Ações Afirmativas: a universidade deixou de reservar vagas e passou a preenchê-las.

É, portanto, no segundo requisito (mudança da correlação de forças da universidade) que se encontra o limite atual para o avanço da estratégia das Ações Afirmativas como instrumento de transformação da correlação de forças da sociedade. É preciso atentar que é responsabilidade do Movimento Estudantil organizar os estudantes cotistas, impedindo a diluição dos mesmos (fruto da naturalização de opressões, preconceitos e discriminações sofridas) perante os demais e facilitando a compreensão destes de sua função social dentro desta estratégia. Nesse sentido, é preciso reconhecer que o Movimento Estudantil da UFRGS falhou, de 2008 até então, na tarefa de apontar a necessidade de organização dos cotistas como forma de combate aos obstáculos impostos pelas estruturas da universidade.

Para dar conta de sua tarefa central, o Movimento Estudantil precisa reconhecer os avanços da universidade, no que tange à democratização do acesso, para aí formular uma crítica ao atual modelo de estruturas universitárias. Nesse novo contexto, o estudante cotista passará a se enxergar como força motriz das transformações a realizar, e não como força auxiliar que apenas legitima um discurso posicionado fora da realidade dos mesmos. Desse modo, para avançarmos na efetividade das Ações Afirmativas e na construção de uma UFRGS mais popular, é fundamental criarmos instrumentos de organização dos alunos cotistas, da classe trabalhadora da universidade, empoderando-os para transformar as estruturas que hoje os excluem, tornando a UFRGS uma universidade construída pela sociedade e para sociedade.

1 Estudante de Relações Internacionais da UFRGS, Secretária de Juventude do PT-POA, Militante do Movimento Mudança

2 Estudante de Economia da UFRGS, Conselheiro Universitário representante dissente na Comissão de Avaliação das Ações Afirmativas, Militante do Movimento Mudança

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