Opinião
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24 de abril de 2012
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09:00

Pesquisa: meio essencial e não fim de uma Universidade

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Por Jairton Dupont e Luís A. Fischer

Há um falso dilema, transformado equivocadamente até mesmo em paradigma na academia e na sociedade em geral: ensino e pesquisa seriam antagônicos e incompatíveis. “Você dá aula ou faz pesquisa?” “É professor ou pesquisador?” “Somos uma instituição de ensino e não de pesquisa!”

Este é um dos maiores obstáculos a serem superados pela universidade brasileira, se queremos realmente ter instituições que possamos chamar de Universidades. Este falso dilema é nefasto e certamente está no centro da incapacidade de nossas instituições de responder e propor alternativas aos nossos problemas ― aos problemas de toda a sociedade.

A universidade, uma das maiores conquistas da civilização, é uma das instituições mais antigas da humanidade e se instalou em todos os cantos do mundo, nos diferentes povos e culturas. Obviamente ela possui características próprias e terá marcas especificas conforme a comunidade na qual esteja inserida.

A experiência universitária, plural e diversa, mostra basicamente dois tipos de projetos, que respondem ou não a contento às necessidades e ambições das comunidades nas quais estão inseridas. Há instituições em que a formação está baseada preferencialmente na transmissão oral; nelas a pesquisa está separada do ensino e em geral restrita à pós-graduação. E há outras instituições em que o ensino e a pesquisa são inseparáveis; nelas, a formação se dá a partir da pesquisa, que é o meio através do qual o individuo é formado, com a mão na massa, num ambiente em que problemas reais são considerados, processados e equacionados e se gera conhecimento, cultura, arte, ciência, tecnologia, enfim inovação para a sociedade.

A história mostra-se implacável: as instituições em que o ensino se dá através da pesquisa são as que melhor respondem às necessidades e anseios da comunidade em que brotaram. Formam indivíduos muito mais bem preparados para enfrentar os desafios reais, formam protagonistas para a sociedade, ao mesmo tempo em que geram conhecimentos essenciais para a solução de problemas, para a proposição de alternativas para o avanço da sociedade como um todo.

Isto tanto é verdade que entre as 100 instituições universitárias mais importantes, em qualquer ranking de classificação ou mesmo na opinião pública difusa, aparecem quase que exclusivamente instituições baseadas no ensino pela pesquisa. E mesmo entre os ditos institutos puros de pesquisa se destacam aqueles em que existe ensino, pois quem faz, oxigena e nutre a geração de conhecimento são os estudantes, que, a cada turma que ingressa, renovam o espírito inquieto necessário para a geração de cultura, arte, ciência e tecnologia. Portanto poucas são as possibilidades de sucesso de qualquer empreendimento acadêmico se desvinculado da pesquisa. Pesquisa que é o meio e não o fim da instituição Universidade.

Em outra ponta do problema, é preciso constatar que a Universidade pública brasileira vive uma evasão anual excessivamente grande, em alguns casos intoleravelmente grande, alcançando dezenas de pontos percentuais. As razões são várias, mas têm relação direta com dois fatores, ao menos. Por um lado, há currículos pesados demais, que simplesmente não deixam tempo para o aluno estudar, dada a necessidade de ele estar por horas a fio diante de um professor, em sala de aula convencional. Por outro, o problema é a própria centralidade da sala de aula convencional nas concepções de ensino, quando temos excelentes experiências de formação em que alunos são engajados em pesquisa, diretamente, cumprindo carga horária extensa junto aos laboratórios, clínicas, arquivos, ateliês, seminários, bibliotecas, etc., conforme a natureza de sua área.

Em contraponto, estatísticas recentes mostram que, entre alunos de iniciação científica, engajados em extensão ou de algum modo envolvidos com dimensões práticas de sua área, as taxas de evasão se aproximam do zero. Outro exemplo de sucesso inquestionável é a pós-graduação: estudantes com a “mão na massa”, ao mesmo tempo que recebem sua formação, criam, geram conhecimento científico e cultural que fazem avançar nossa sociedade. O que têm em comum estes dois casos de sucesso com evasão beirando ao zero e formação exemplar? São estudantes de tempo integral, que passam a maior parte do tempo justamente com a mão na massa de sua área!

Jairton Dupont e Luís A. Fischer são professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul


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