Opinião
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3 de fevereiro de 2012
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12:30

Sobre as campanhas de prevenção a Aids no Carnaval

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Alexandre Böer

Como é de costume, todos os anos vemos campanhas de prevenção à Aids no período de Carnaval. Todos imprimem sua marca: Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Logo passado a folia, assim como nos anos anteriores, serão veiculadas mensagens de estímulo ao diagnóstico.

Não que não seja importante, mas se o Sistema é Único, porque não fazer uma campanha mais articulada entre todos os gestores de saúde e com a participação da sociedade civil no processo de construção e criação das mesmas?

Neste dia 2 de fevereiro será o lançamento oficial da campanha pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Desta vez veremos bonés, porta-camisinhas, bandanas, flyers, abadás e outros materiais, além de cartazes visando atingir os héteros, gays e travestis, com idades entre 15 a 24 anos, além de ações nas redes sociais.

Em um dos cartazes, um rapaz e uma travesti aparecem juntos, como um casal. A ideia é mostrar que esse tipo de situação é comum e que o único problema em qualquer relação de Carnaval é se esquecer do uso da camisinha. O objetivo é conscientizar todos os brasileiros, independente da orientação sexual, da importância do uso do preservativo.

É louvável a iniciativa do Ministério da Saúde em contemplar populações de travestis, gays e héteros nas campanhas de prevenção à Aids no Carnaval, entretanto. Criticamos, porém, o fato de que são campanhas pontuais e normalmente apresentam sérios problemas de logística em sua distribuição. Nunca vi um cartaz do Ministério da Saúde em Porto Alegre numa escola de samba, por exemplo, onde os grupos fazem festa e ensaios para se preparar para o Carnaval.

O que lamentamos, também, é a falta de investimentos em ações de educação em saúde durante o ano todo, pois as pessoas não fazem sexo apenas neste período. Outro problema que constatamos é que nos últimos anos, as peças chegam em cima da hora e não há um planejamento sequer junto com as coordenações estaduais e municipais de DST/Aids, havendo sobreposição de ações e gastos desnecessários que poderiam ser melhor otimizados.

Sobre as peças em si, acabam por reforçar estereótipos e lugares comuns. Os gays na balada noturna, a travesti na esquina e os héteros na praia. Não há nada de criativo e tem uma produção de arte para lá de falsa. E o que mais me intriga é a falta de interlocução com a sociedade civil, que nunca é consultada.

Alexandre Böer é Jornalista com especialização em comunicação em saúde pela UFRGS e Coordenador de Jornalismo do SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade.


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