Paulo Tedesco
E quem diria: mal entramos no século e um Titanic contemporâneo desaba no noticiário. É ver para crer. Aquele gigantesco pedaço de metal, adernado num cantinho do mediterrâneo, ocupa não só o espaço em jornais e sítios eletrônicos como o olhar do cidadão, que se pergunta: é verdade? Sim, é verdade, e passa longe de teorias conspiratórias. Aquilo não é armação para promover alguma cerveja nem um novo serviço de banco internacional.
O que me intriga, no entanto, e parece vem sendo pouco a pouco desvelado, é como aquilo ocorreu. A gravação da conversa com o comandante é estarrecedora, o cara que deveria estar lutando pela própria honra e coordenando a evacuação de mais de quatro mil pessoas, estava no cais se escondendo da verdade e pior, se negando peremptoriamente em assumir outra atitude. Troféu anti-herói do novo milênio para ele.
Morreram passageiros e talvez tripulantes por falta de infraestrutura para o desembarque, num mar sem ondas nem vento e a meio quilômetro de uma zona bem habitada da costa. Como cidadão, novamente, tenho dificuldades em acreditar que isso seja verdade, mas é. O capitão brincava com um barquinho do tamanho de três torres Eiffel e abalroou o casco, e o fez tão bem que ninguém consegue explicar como o que não era para acontecer aconteceu. Tal como na história do citado Titanic.
Quer saber? Desastres dessa ordem são sinais dos tempos. A tecnologia faz o homem brincar de deus no playground da terra, e brincar de deus para quem não é deus, só pode resultar numa coisa: bobagem. Que esse desastre sirva para lições de segurança e cautela, de que não estamos imunes a nada, nem à guerras atômicas iniciadas por países ricos nem à novas hecatombes absolutamente inesperadas, com gente que não tinha nada a ver com o assunto em questão.