Opinião
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1 de novembro de 2011
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20:00

O Brasil ao avesso

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Fernanda Melchionna *

Marcelo Freixo, Deputado Estadual do PSOL do Rio de Janeiro, segundo mais votado da capital terá de se afastar do Brasil após sistemáticas ameaças de morte. Foram sete somente este mês. Seu crime? Fazer o que prometeu em campanha eleitoral. Combater resolutamente as milícias e o crime organizado.

Quem viu o filme Tropa de Elite 2 sabe bem do que estou falando. O Deputado Fraga do filme é inspirado no trabalho de Freixo. A CPI das milícias, presidida por ele, já colocou na prisão mais de 500 pessoas, incluindo parlamentares e policiais.

Quer dizer, aqueles que realmente combatem o crime, que têm compromisso com o que propõem e com as comunidades que mais necessitam são assassinados, como a Juíza Patrícia Accioli, ou têm de sair do país, como no caso de Freixo.

O mesmo não acontece com os que desviam verbas e enriquecem às custas do dinheiro público. Estes renunciam aos seus cargos ou, na pior das hipóteses, são cassados e voltam a se candidatar e até mesmo a se eleger. Eles também não cumprem as suas promessas de campanha, dizem exatamente o contrário do que pretendem fazer. Falam em saúde e desviam verbas de ambulâncias e hospitais. Falam em segurança e fazem vistas grossas ao crime. Falam em honestidade e escondem dinheiro público nas cuecas, nas meias e compram outros deputados para não serem cassados. Falam em Copa do Mundo, Olimpíadas e desviam verbas que seriam para materiais esportivos nas comunidades pobres. Falam em país sem miséria e destinam mais da metade do orçamento do país para banqueiros.

Contudo, eles dizem que vivemos em uma democracia. O caso do Deputado carioca lembra uma passagem do livro de Eduardo Galeano: “O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o recomenda. Em sua escola, escola do crime, são obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que não há desgraça sem graça, nem cara que não tenha sua coroa, nem desalento que não busque seu alento. Nem tampouco há escola que não encontre sua contra-escola.”

Acho que estamos no Brasil ao avesso. Está na hora de construir uma democracia real com o povo no controle da economia e da política. Freixo é o professor da nossa contra-escola.

* Fernanda Melchionna é vereadora do PSOL em Porto Alegre

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