Opinião
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13 de agosto de 2011
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21:27

A hipocrisia do “calar a voz” e a democracia

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Por Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

O recente assassinato de uma juíza tem despertado diversas análises. Uma delas, cometida hoje pela juíza aposentada e ex-deputada federal Denise Fossard, merece algumas considerações por mostrar o nível de hipocrisia com que alguns membros de poderes julgam a democracia.

Reproduzo frase do texto: “Quando há ameaça, e, principalmente o assassinato de um juiz, abre-se um precedente perigosíssimo, é mais grave [em relação a outros homicídios]: porque é ele quem bate o martelo. É ele quem tem de olhar para o réu e dizer que o condena à pena máxima de prisão. Quando se cala essa voz –e aí não importa o nome juiz –, é a instituição que foi mortalmente atingida”. (grifo meu).

A frase deixa bastante clara a visão, que sempre imperou no Brasil, sobre o que seja democracia: a de que o Estado e seus poderes são mais que a sociedade que os forma e os mantém. Desconte-se o exagero da expressão “mortalmente”, recurso típico do meio em que transita.

E isso não é democracia. Afirmar que “Calar a voz de um juiz é um precedente perigosíssimo para a República. É um golpe na democracia” é no mínimo hipocrisia. Ao dizer que isso “é mais grave”, não sei com que termos qualifico.

Grave, Doutora, são as milhares de vozes caladas cotidianamente nesse país e contra o que pouco tem sido feito. Isso sim fere “mortalmente” a democracia, pois atenta diretamente contra nós, comuns mortais que sequer podemos nos dar ao luxo de “abrir mão da segurança” (como fez a juíza), posto que sequer a temos. Mas parece que a Senhora está mais preocupada em levantar sua voz corporativa do que assumir que pertence a um grupo especial, contra o qual tudo é “mais grave”.

Cada brasileiro morto no trânsito é um atentado à democracia; um atentado a uma instituição que a Senhora deveria saber ser bem maior que as instituições de estado: a sociedade.

Mas é justo o seu pensamento: nós também somos hipócritas e concordamos. Afinal, é mais cômodo…


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