Opinião
|
2 de abril de 2011
|
09:00

Por que ainda somos subdesenvolvidos?

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Paulo Daniel *

Com a revolução industrial inglesa, criou-se um sistema de divisão internacional do trabalho, ocorreram importantes aumentos de produtividade, que basicamente estão ligados a três causas; acumulação de capital e progresso técnico no que se refere aos processos produtivos, realocação de recursos já existentes, permitindo maximizar vantagens comparativas no comércio exterior e o uso de recursos não renováveis.

A partir desse movimento, de maneira geral, a infraestrutura, o transporte, o financiamento e a comercialização se realizam sob o controle de interesses de economias desenvolvidas, neste sentido, outras economias que estão em formação, ampliam seu processo econômico baseados em subsistemas dependentes das então ditas economias desenvolvidas, portanto, pode-se distinguir dois tipos de economias dependentes; exportadoras de recursos minerais e exportadoras de produtos agrícolas.

No caso dos países latino-americanos a especialização na produção de bens primários converte-se em desvantagem na medida em que os países centrais do sistema capitalista passam a ser predominantemente produtores e exportadores de manufaturados.

A tão desejada ligação-reiteração dos setores agroexportadores das economias latino-americanas depende, sempre, da demanda dos países centrais. Internamente, o setor exportador é “moderno”, que se comporta dinamicamente quando assim o favorece a demanda externa, mas que pela contínua deterioração dos termos de intercâmbio vê “roubada” uma parte substancial do excedente que produz. Essa ligação não dá ao setor exportador um papel interno transformador das estruturas econômicas e sociais.

O setor exportador é especializado na produção de algumas poucas mercadorias primárias, que tanto podem ser o café, a carne ou o trigo, ou na produção mineral. Esta é uma tese desenvolvida pela CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) e, particularmente, por Celso Furtado.

Para romper esse círculo vicioso do subdesenvolvimento, a teoria cepalino-furtadiana propõe de forma geral, o desenvolvimento e ampliação do processo de industrialização, para isso, faz-se necessário desenvolver políticas, principalmente keynesianas, cujo multiplicador do emprego gera maior quantidade e diversidade de empregos, objetivando, elevar a renda, pondo em ação um mecanismo realimentador.

Entretanto, o próprio Furtado em seu Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina, percebeu que a industrialização, nas condições concretas do nosso continente, concentra a renda em vez de operar sua melhor distribuição, e não porque não crie empregos, mas principalmente pelas construções históricas, políticas e sociais latino-americanas.

Passados algumas décadas, após vários textos de Furtado e da CEPAL sobre as razões de nosso subdesenvolvimento, continuamos ainda, de certa forma, no mesmo processo econômico, continuamos exportando bens de baixíssimo valor agregado, portanto, com pouquíssima ou nenhuma tecnologia e importando justamente o oposto, refletindo claramente a “troca desigual”.

Além do que, uma das grandes diferenças dos tempos de Furtado, para o nosso, deva ser o grande processo, praticamente inexorável, de financeirização da economia. Por isso, talvez, a temática tradicional circunscrita aos “obstáculos ao desenvolvimento” tendeu a ser substituída por outra saída do debate sobre “os limites ao crescimento”, “os estilos de desenvolvimento”, os “tipos de sociedade”, a “ordem mundial”.

O aprofundamento da análise das relações internacionais de dominação-dependência e de sua introjeção nas estruturas sociais permite observar com maior clareza a natureza das forças que respondem pela tendência à persistente concentração de renda em benefício das economias dominantes e pela marginalização de frações crescentes de população nos países de economia dependente.

* Economista e Mestre em economia política pela PUC-SP.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora