Opinião
|
19 de abril de 2011
|
10:00

Chega de enganos!

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Pelo Dr. Luiz Carlos Corrêa da Silva, Médico Pneumologista (Santa Casa de Porto Alegre) e Professor Universitário (UFRGS, UPF)

Considerando que todos sabem que cigarros fazem mal à Saúde e que tudo deve ser feito para evitar que jovens iniciem a fumar e para ajudar os fumantes a parar de fumar, é incompreensível que a indústria do tabaco ainda seja licenciada para a produção de tabaco e a industrialização e comercialização de cigarros. Está na hora de considerar o fumo um produto ilícito/ilegal por causar Dependência e enormes danos à Saúde e à Sociedade em geral. Esta mudança racional de paradigma está sendo postergada por motivos puramente econômicos, pois até poderia parecer que saúde e mortalidade não sejam relevantes, posição que ninguém mais se atreve a assumir. O Governo permanece ambivalente quanto às suas políticas: alguns setores são amplamente contrários ao tabagismo, por ser altamente danoso e letal, e outros o incentivam, pensando apenas economicamente. Não existe uma política de Estado!

Nunca a produção do tabaco recebeu tanto apoio midiático como estamos assistindo nos últimos meses. Os próprios fumicultores são os que menos se manifestam. Políticos, jornalistas, e pessoas de diversos setores, seja através de anúncios e outras matérias, geralmente pagas, estão promovendo um verdadeiro bombardeio contra a ANVISA. E querem saber porque? Porque está sendo feita uma consulta pública para que a população se manifeste com relação a duas questões que atingem em cheio os interesses escusos da indústria do tabaco.

A primeira diz respeito à adição ao fumo de produtos que dão sabor e odor muito agradáveis para atrair as pessoas, particularmente os jovens. Ora, estes produtos funcionam como balas, chocolates e pirulitos para atrair crianças e adolescentes. Funcionam como um chamariz para a iniciação; depois a nicotina faz o resto do trabalho tornando o jovem um dependente químico.

E a segunda refere-se à propaganda nos pontos de venda, locais que vendem de tudo que os jovens gostam, desde guloseimas até refrigerantes e revistas. A idéia macabra é de oferecer cigarros que se misturem com aqueles produtos e até se confundam com os mesmos, pois terão até sabor e odor assemelhados.

Note-se que estes dois itens, aparentemente inofensivos apenas para os desavisados, são o cerne da política atual da Indústria Tabageira: promover intensamente a iniciação ao tabagismo, muito particularmente, pelas crianças!

Ora, a Sociedade precisa deixar de deixar-se enganar! Chega de absurdos! Não podemos mais ficar assistindo estas tendenciosas manifestações pró-tabaco e ficar indiferentes. Afinal, trata-se de cinco milhões de vidas que anualmente são ceifadas mundialmente devido aos males do fumo, e 1,3 bilhão de pessoas fumantes que viverão dez anos menos. Este horror tem de acabar. Urge uma política de Estado condizente com o compromisso assumido quando o Brasil ratificou, em 2005, a Convenção Quadro da OMS – o maior Tratado Internacional de Saúde Pública para Controle do Tabaco.

Assumamos todos nosso dever de cidadania e de compromisso com a Vida, pois não mais se permite a omissão, dizando um não ao tabagismo!


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora