Opinião
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15 de fevereiro de 2011
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08:00

Estão realmente valorizando a saúde da família?

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Roberto Pelegrini Coral *

Fui diretor do HPS por um longo tempo. Portanto, sei das dificuldades de um gestor público na área da saúde. Por isso, quando começaram a falar em fundação para a saúde de Porto Alegre, achei que poderia ser uma boa solução. Ainda mais que, durante as minhas gestões, criamos a Fundação Pró-HPS, um grupo de pessoas da sociedade preocupadas com o futuro do hospital, pois precisávamos de mais participação e apoio da comunidade.

Porém o assunto — fundação de direito privado — tomou outro rumo. Como, por exemplo, os horários dos médicos. Ora, um médico deve ser avaliado por vários indicadores: satisfação dos pacientes, número de atendimentos, números de encaminhamentos, morbidade, mortalidade, palestras proferidas e artigos publicados a comunidade científica e leiga, etc. Não adianta ter um péssimo médico presente, como não adianta ter um bom médico ausente.

A partir daí, fui mudando de opinião. E o ponto principal da minha discordância na formação da fundação é que ela está sendo criada para o Programa Saúde da Família.

Na área hospital, nas emergências e em outros setores, talvez a fundação seja benéfica. Isso porque há constantes mudanças, dificuldades de contratação de especialistas e de introdução de novas tecnologias. Enfim, há necessidade de uma maior agilidade.

Por que na saúde da família? Logo neste setor da Medicina, em que mais o Estado teria que priorizar e proteger seus funcionários! Local de atuação que exige uma enorme necessidade vacacional, onde os funcionários têm dedicação integral e estão sob constante influência política e controle social.

O médico que se dedica a esta especialidade está abdicando de outros ganhos, para se dedicar exclusivamente, durante toda sua vida, para o setor público. Como um professor, um delegado de polícia, um promotor. Precisa de estabilidade e de uma aposentadoria digna.

Tenho certeza que os fundadores da Medicina de Família no Brasil, que se inspiraram na Medicina inglesa, idealizaram que o médico de quarteirão, ou seja, o medico de família, teria uma carreira modesta, vocacionada, mas com ganhos razoáveis e uma aposentadoria tranquila. Será que uma fundação de direito privado vai oferecer estes requisitos básicos para uma boa prática médica?

* Médico


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