Opinião
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9 de setembro de 2010
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17:00

Emir Sader no colo de Stálin

Por
Sul 21
sul21@sul21.com.br

Por Marcos Rolim

O sociólogo Emir Sader acaba de nos brindar com um artigo de péssima qualidade (https://www.homolog.homolog.sul21.com.br/index.php/permalink/opiniao/1601) no qual acusa a candidata do PV, Marina Silva, de estar “no colo da direita”.

Argumentos? Nenhum, salvo a constatação de que Marina não está alinhada com a coligação dirigida pelo PT; nem se apresenta como uma “variante da esquerda”. Segundo Sader, Marina tem uma visão “despolitizada” e “caiu na mesma esparrela oportunista de Heloísa Helena de querer aparecer com terceira via”. Mais, afirma que as alianças de Marina foram se dando “ao centro e à direita” e conclui com a sentença de que a carreira política de Marina está acabada.

Há alguns textos que, de tão tristes, merecem apenas o silêncio. Mas Emir Sader tem abusado de sua vocação dogmática e é preciso que alguém lhe diga que os Processos de Moscou são uma página vergonhosa do tipo de raciocínio com o qual ele tem ao longo de décadas tranquilizado as mentes cansadas.

Primeiro, se Sader entende que a articulação política dirigida pelo PT nestas eleições representa a posição “de esquerda” seria interessante que ele explicasse o que fazem Sarney, Collor, Renan, Hélio Costa, Cabral et caterva nela. Nunca faltará o recurso à “dialética”, é claro. Mas bota dialética nisto para que os petistas do Maranhão compreendam as virtudes de apoiar Roseana e derrotar a candidatura de Flávio Dino (PCdoB). Sim, claro, Flávio Dino também não deve ter compreendido a polarização entre a “esquerda” representada pelo PT e a direita da aliança demo-tucana e deve ser mais um representante desta “esparrela oportunista” de pessoas que buscam alternativas ao invés de se acomodarem com os governos.

O que Sader deveria explicar é por que razões um projeto transformador como aquele representado pelo PT terminou sendo enquadrado pela tradição política brasileira em uma vertente amesquinhada da social-democracia moderna (ainda, assim, é claro, à esquerda do tucanato, mas pouco diferente deles do ponto de vista moral). Poderia, como sociólogo, investigar as dinâmicas pelas quais uma legítima pretensão democrática e emancipatória se converte em “lulismo” e renova, no espaço de alguns anos, as inclinações populistas que acompanham nossa história como uma sombra e por que, ainda, este mesmo partido não é capaz de se livrar da cleptocracia que se aninhou confortavelmente na legenda.

Ao invés disso, prefere atacar Marina. Mas o professor Sader, autor entre outros livros de uma pérola chamada “Cuba: um socialismo em construção” (editado não em 1960, mas, pasmem, em 2001), não se contenta um produzir um libelo contra Marina. Vai além e declara o fim de sua trajetória política. Sorte nossa que este filhote extraviado de Stálin não possui poder. Fosse ele um “Comissário” e Marina teria sua carreira de fato terminada.


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